O Homem e o Educador Paulo Freire

Brasil, S¿o Paulo, SP. 16/08/1993. O educador e filÛsofo Paulo Freire posa para foto durante entrevista concedida para o Grupo Estado na capital paulista. Pasta:48105 Negativo:935050.2 Contato:0803100 – CrÈdito:CL¿VIS CRANCHI SOBRINHO/ESTAD¿O CONTE¿DO/AE/Codigo imagem:112225

O Homem e o Educador Paulo Freire

Por João Gouveia*

“Eu gostaria de ser lembrado como alguém que amou o mundo, as pessoas, os bichos, as árvores, a terra, a água, a vida.” (Paulo Freire)

Paulo Reglus Neves Freire viveu 76 anos de intensa capacidade de amar. Nascido no Recife (PE) em 19.09.1921, desencarnou em São Paulo vítima de infarto em 02.05.1997. Produziu uma obra educacional tão significativa quanto reconhecida internacionalmente, encontrando-se entre os mais influentes pensadores da educação do século XX, influenciando gerações de pedagogos e educadores do Brasil e do exterior, consignando sua passagem pela Terra, sua marca indelével no mundo com uma excelente missão: educar.

Após sua formatura em Direito, foi professor, ensinando Português para alunos do ensino médio e atuou com a educação de adultos e a capacitação de trabalhadores, obtendo reconhecimento internacional por sua habilidade e experiência em propor um método de alfabetização de adultos no nordeste do Brasil, que tinha por objetivo, além de ensinar a ler e a escrever, desenvolver uma visão crítica da sociedade. Um dos livros em que expõe esse trabalho é “Pedagogia do Oprimido” (1969), obra publicada primeiro em espanhol e inglês, chegando ao Brasil quatro anos mais tarde, em decorrência da censura imposta no país, instalada pela ditadura militar. Nesta e em outras obras seguintes ele realiza um estudo no qual defende um sistema de educação que dá ênfase ao aprendizado, como uma ação de cultura e liberdade, sendo um processo interativo entre professor-aluno e aluno-professor, quando em ambos se efetiva a aprendizagem.

Coordena a partir daí o Programa Nacional de Alfabetização do governo João Goulart, lançado em janeiro de 1964. Nesse mesmo ano em abril, após o golpe militar, sem nenhum exame seu método é considerado subversivo. Viu-se obrigado a exilar-se na Bolívia, posteriormente mudou-se para o Chile e a Suíça. Sua grande capacidade educativa se ampliou em contato com outras realidade e cenários mais favoráveis ao desenvolvimento do pensamento. Foi convidado a atuar como professor visitante na Universidade de Harvard e também pela Cambridge.

Mesmo fora de sua pátria, na década de 70, juntamente com outros brasileiros exilados na Europa, criou o IDAC – Instituto de Ação Cultural -, com o objetivo de assessorar diversos movimentos populares em diversas localidades do mundo. Atuou, assim, como conselheiro na reforma educacional das ex-colônias portuguesas na África. Anistiado, volta ao Brasil em 1979. É nomeado Secretário Municipal de Educação de São Paulo. Depois de deixar o cargo, assessora projetos culturais na América Latina e África. Integra o quadro de consultores da UNESCO.

É um pensador comprometido com a vida, com a sabedoria: não pensa ideias, pensa a existência em sua vasta acepção, principalmente quando nos proporciona defrontarmos com a luta pela sobrevivência, o mundo do trabalho e suas inquietações, a conquista da identidade pessoal e profissional e a aquisição da autonomia econômica, o despertamento para as questões de ordem política, de cidadania, metafísica, transpessoal, de valores morais e de crenças.

Nele, experiência, conhecimento e saber se combinam e dialogam afavelmente. Pensando, escrevendo e orientando com nitidez, clareza e aprofundamento, deixa ser revelada sua profunda intuição e missão: a do educador com sutil vocação humanista, o que lhe valeu ser acolhido com distinção fora do Brasil e por apresentar suas invenções, suas técnicas pedagógicas, redescobrindo através delas o processo histórico em que e por que se constitui a consciência humana.

Quando ele promove a alfabetização de adultos está nos ensinando “a aprender a escrever a sua vida, como autor e como testemunha da sua história, isto é, biografar-se, existenciar-se, historicizar-se. Por isto, a pedagogia de Paulo Freire, sendo método de alfabetização, tem como idéia animadora toda amplitude humana da “educação como prática da liberdade’, afirma-nos o professor Hernani Fiori, ou como queremos “empoderar-se”.

Em tempos de governo negacionista e de retrocessos, precisamos nos empoderar, resistir e lutar por dias melhores.

 

João Gouveia é professor da rede municipal de ensino de Salvador*

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