ARTIGO: A escrotidão impediu a reeleição

ARTIGO: A escrotidão impediu a reeleição

Em 1997 era o presidente da república o Fernando Henrique Cardoso, quando propôs a emenda constitucional, aprovada, estabelecendo o instrumento da reeleição de cargos, reelegendo o próprio, Lula e Dilma. O Temer não tentou. Este atual ocupante do cargo maior da nação é o primeiro a sair derrotado. O ex-presidente Lula continuou a vantagem e saiu-se vitorioso, nesse segundo turno, porque o povo cansou de tanta escrotidão (palavra-trem que procura dar uma ideia, denota más qualidades ou pensamentos e ações moralmente repulsivas como: torpeza, vileza, crueldade, feiura, desonestidade, covardia, também muitas vezes substituída por escrotice) desse ex-capitão que, diga-se de passagem, demonstrou bem antes o seu caráter e práxis. Rejeitado, não conseguiu superar a aversão ao seu nome e conduta nas urnas e nas ruas.

Nesse período de governo de 2018 até agora, o país conheceu de perto o que são os retrocessos, incompetência, violência e autoritarismo. A economia sofreu com os impactos da pandemia e também das intervenções de um professor pardal do posto Ipiranga. A quantidade de brasileiros mortos pela Covid-19, segundo especialistas, não teríamos esse número se houvessem tomado as medidas assertivas e eficazes nesse enfrentamento. 689 mil eleitores saíram de cena, graças ao coronavírus e ao bolsonarovírus. E, é nesse capítulo que a escrotidão se amplia, além do negacionismo da doença e do seu tratamento, ou seja da gravidade do problema, chega a imitar publicamente as pessoas com falta de ar, debochar impiedosamente dos doentes, dizer que não era coveiro e rindo chamar o povo de ‘maricas’ é sem precedentes e sem sentido. Enquanto o povo nordestino sofrendo com as enchentes e inundações ele passeava de jetsky.

Pondo a culpa na guerra da Rússia e da Ucrânia, o crescente aumento do custo de vida, contribuiu para elevar os preços de commodities, como combustíveis e alimentos. Regressamos ao mapa da fome, a miséria se expandiu, volta ao estado miserável de tentar encontrar proteínas nos lixões, carros de lixos e restos de supermercados. A fila para os ossos é uma cena surreal.

O ‘cercadinho’ foi o palco das inúmeras críticas infundadas às instituições, ao sistema eleitoral e aos adversários. Se ele já era um mentiroso, especializou-se em mitomania, cabendo aqui uma melhor conceituação: a mitomania é a compulsão pela mentira, contada de forma consciente, que tem por objetivo a autoproteção ou, muitas vezes, o falseamento da realidade, de maneira a fazê-la parecer melhor. “Trata-se de um processo de adoecimento psíquico, onde a pessoa que sofre vive alimentando mentiras”. Nesse sentido os apoiadores quando bradam é ‘mito’, é mito’, acertam ele é mitomaníaco.

Essa eleição é histórica. É a retomada da redemocratização do país e marca o fim de um governo infame – já considerado período Bozozóico que será reconhecido como a época do apagão da inteligência e da recusa da ciência, do bom senso democrático e do desrespeito às instituições e símbolos nacionais.

João Fernando Gouveia, o autor é biólogo, professor e poeta baiano.

Você pode gostar de ler também: