APLB-SINDICATO VAI AJUIZAR AÇÃO CIVIL PÚBLICA PELA SUSPENSÃO DO ALFA E BETO NA REDE MUNICIPAL DE SALVADOR

APLB-SINDICATO VAI AJUIZAR AÇÃO CIVIL PÚBLICA PELA SUSPENSÃO DO ALFA E BETO NA REDE MUNICIPAL DE SALVADOR

DSC_3414

Fotos: Walmir Cirne

A APLB-Sindicato, juntamente com outras entidades do movimento social, deverá ajuizar ação civil pública contra o executivo municipal, exigindo a retirada do material didático do Alfa e Beto das escolas da rede municipal e a devolução dos recursos aplicados em sua aquisição, obedecendo ao que já foi recomendado pelo Ministério Público Estadual.

 A medida foi anunciada pela diretora Jacilene Nascimento, durante o seminário ALFA e BETO – As mais belas mentiras do sistema, realizado durante esta terça-feira, 21, das 9h às 17:30, no Hotel Sol Barra.

A diretora que mediou a mesa “Alfa e Beto e as Políticas Educacionais”, realizada no período da manhã, conclamou a categoria a persistir na mobilização contra o Alfa e Beto em suas unidades escolares. “Os professores têm que impor como profissionais, manter o que foi decidido pela categoria de não ao Alfa e Beto e não se curvar à vontade de alguns gestores”, recomendou.

Tanto os palestrantes como os participantes que se pronunciaram durante os debates ratificaram a posição da categoria de rejeição ao método, que no consenso das opiniões representa um retrocesso do ponto de vista pedagógico e um desrespeito aos saberes de professores e alunos.

“Esta luta não é apenas dos educadores, mas de todos os setores da sociedade, que devem permanecer junto com o sindicato e os professores para garantir o futuro dos alunos da rede municipal, a vitória da luta pela valorização e autonomia pedagógica e o reconhecimento social do trabalho docente”, resumiu o educador Walter Takemoto, representante da UFBA e do Instituto Abaporu de Educação e Cultura.

Liana Torres, Doutora em Educação pela Universidade Federal de Sergipe e professora do Departamento de Educação da UFS, destacou a importância, para todo o Brasil, do movimento contra o pacote do IAB, realizado pelos educadores baianos , “por inaugurar uma nova etapa da luta sindical, pela dignidade do trabalho docente e não apenas por reajuste de salários. Portanto, esta é uma luta que não pode se deixar derrotar, nem pela administração pública e nem pelo tempo”, defendeu.

Ela classificou o Alfa e Beto como um método velho, que serve apenas para decodificar e memorizar palavras. “O Alfa e Beto não garante para os alunos o domínio efetivo da escrita e da leitura. Do ponto de vista do professor, desqualifica e destitui os saberes e o seu papel de organizar e construir conhecimento, além de reforçar relações hierarquizadas do trabalho pedagógico e na organização do conhecimento”, disse a professora que realizou, em 2005, uma análise sobre as concepções teóricas e metodológicas do método de alfabetização ALFA E BETO e dos programas Se Liga e Acelera da Fundação Ayrton Sena, em parceria com a professora Dra Sônia Meire Santos Azevedo de Jesus.

PROGRAMA NÃO TEM CONSISTÊNCIA TEÓRICA

A ideia foi corroborada pela professora Valquiria Borba, do Departamento de Educação da Uneb, para a qual os livros do Alfa e Beto não têm consistência teórica, não levam em conta o letramento, não consideram a consciência fonológica e não trabalham a oralidade, em termos lingüísticos. “Para agravar, não existe uma formação continuada para os professores, apenas um treinamento falho. Por isso, temos que prezar pelos nossos alunos e nos rebelar, continuando a luta contra este material que é abominável, absurdo”, disparou.

O educador Walter Takemoto, da UFBA destacou a importância dos professores se manterem firmes na luta, resistindo com o Alfa e Beto. “A decisão do Ministério Público de recomendar a suspensão do pacote Alfa e Beto é fruto da lutas das equipes escolares contra a medida arbitraria da Prefeitura de Salvador. Portanto, neste momento cabe aos professores demonstrar que querem que a justiça prevaleça, forçando a Prefeitura a acatar o que o Ministério Público determinou”.

A professora da rede municipal de Porto Alegre, Suzana Schineider, Doutoranda em Educação pela UFRGS, também elogiou a determinação dos professores baianos na luta contra o Alfa e Beto e observou que no Rio Grande do Sul o descontentamento dos professores com o programa estruturado não ganhou a mesma proporção que em Salvador.

A estudiosa, que falou sobre a sua pesquisa de Mestrado, baseada no Alfa e Beto, com ênfase na formação de professores alfabetizadores, recomendou aos educadores que aderiram ao programa mais reflexão e questionou até que ponto o professor tem o direito de tratar o aluno como experimento de um programa que os próprios profissionais ainda não têm conhecimento.

“Temos que focar no pedagógico e no caso da alfabetização, provar por A mais B que esta metodologia não nos serve, por razões científicas e não apenas por questões ideológicas e partidárias”.

_________________________________________________________________________________________________________________________________________

ENTIDADES DO MOVIMENTO SOCIAL ENTREGARAM MOÇÕES DE REPÚDIO  QUE SERÃO ANEXADAS À AÇÃO CIVIL PÚBLICA QUE A APLB-SINDICATO VAI AJUIZAR EXIGINDO A SUSPENSÃO DO ALFA E BETO NA REDE MUNICIPAL

Os movimentos sociais e a educação foi o tema debatido no período da tarde, pelo seminário sobre o ALFA e BETO, numa mesa que teve como mediador Leonardo Groba, do Conselho Regional de Psicologia. Durante o debate, representantes de entidades do movimento social, como o Conselho Regional de Psicologia, Conselho Regional de Serviço Social, o Núcleo de Estudos da Mulher (NEIM), da UFBA, e o GT de Assistência Social na Educação da UFRB, apresentaram manifestos e moções de repúdio ao Programa Alfa e Beto, que serão anexados à ação civil pública que a APLB-Sindicato vai ajuizar exigindo a suspensão do programa da rede municipal, conforme recomendado pelo Ministério Publico do Estado da Bahia.

Participaram da mesa Rui Oliveira, coordenador da APLB- Sindicato, Darcy Xavier, professora e advogada, representante da UNEGRO, Claudete Alves, do GT de Assistência Social na Educação da UFRB, Iole MacedoVanin, do NEIM/UFBA, Cleidenea Bastos, do Conselho Estadual da Mulher, que representou a secretária Lúcia Barbosa, da Secretaria de Políticas para a Mulher (SPM) e o vereador Silvio Humberto, presidente da Comissão de Educação, Esporte e Lazer da Câmara Municipal.

Na oportunidade, o professor Rui Oliveira, coordenador da APLB-Sindicato, destacou que a entidade, em seus 61 anos de existência, sempre fez a luta sindical aliada à luta política e pela democratização do país, não se resumindo ao viés corporativista e economicista apenas.

“A APLB tem presença marcante em todas das lutas políticas e esta mobilização contra o Alfa e Beto e mais uma das bandeiras defendidas pelo Sindicato”, disse o sindicalista que é também secretário geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).

Em suas considerações finais, a professora Marilene Betros, vice-coordenadora da APLB-Sindicato, reiterou a disposição do Sindicato de continuar a luta contra o Alfa e Beto, tanto na mobilização da categoria como na adoção de ações no campo judicial. A diretora informou também que a APLB-Sindicato terá nova reunião com a promotora Rita Tourinho, do Ministério Público, nesta quinta-feira. Sobre a falta dos livros do PNLD nas escolas da rede municipal, a sindicalista informou que a APLB já entrou em contato com o MEC e deverá enviar documento oficial ao Ministério pedindo esclarecimentos sobre o assunto.

Além de educadores, representantes de escolas e da sociedade em geral, e dos diretores Jorge Carneiro, Elza Melo, Oduvaldo Bento, Hércia Azevedo, Silvana Coelho, Claudenice Santana, Luzia Freitas, Rose Aleluia. Ivana Leony, Olívia Mendes e Gercy Rosa, da APLB-Sindicato, o encontro foi prestigiado pelos vereadores Everaldo Augusto (PCdoB) e Hilton Coelho (PSOL).

Você pode gostar de ler também: