APLB critica uberização da Educação

APLB critica uberização da Educação

De acordo com o diretor de Imprensa da APLB-Sindicato, Marcos Barreto, as plataformas de cadastramento de professores para servir ao processo contínuo de substituição tanto na educação básica quanto superior precarizam o trabalho docente.

Um processo de uberização está cadastrando docentes para atuarem como substitutos na rede privada e pública.  O uber-docente abriu cadastro no site de um aplicativo, com inscrição para professores. Na página da empresa diz o seguinte, “será um Processo Seletivo Simplificado Nacional para Formação de Cadastro de Professores. Os professores aprovados no processo seletivo serão chamados para substituir aulas presenciais (se for na cidade onde reside) ou online em qualquer cidade do Brasil, com EAD invertido (alunos na escola e professor à distância).  Todos os candidatos inscritos, terão acesso gratuitamente a um curso de 80 horas de Formação para Docentes em Metodologias Ativas, Didática, Metodologia do EAD e como gravar e transmitir suas aulas com seu próprio equipamento (celular ou notebook)”. A Plataforma se apresenta como uma startup Educacional que tem foco na “maior dor das escolas públicas e privadas” a falta de professores e aulas vagas.

Mas, para a APLB-Sindicato dos Trabalhadores em Educação, como diz o ditado, “nem tudo que reluz é ouro” e, o que pode parecer a princípio como uma ótima oportunidade para fonte de renda, na verdade pode trazer sérios prejuízos aos professores e aos alunos também.

PREJUÍZOS NO ENSINO-APRENDIZAGEM

O diretor da entidade Marcos Barreto pondera que quando se pensa no trabalho docente a coisa fica mais complicada ainda. Segundo ele, é necessário que o professor construa vínculo com seu aluno e isso é feito através do trabalho cotidiano. “O planejamento é precedido através de  um diagnóstico. Ninguém faz um diagnóstico de Curso a partir de um único encontro. É necessário a convivência, a experiência e o contato com o aluno para entender qual é o princípio que vai reger a relação pedagógica entre este professor e o aluno”, ressalta.

Marcos faz duras críticas a este modelo de oferta de serviço educacional, enfatizando os riscos para o processo ensino-aprendizagem.  “É totalmente inadequado para a realidade brasileira, onde já há uma deficiência no processo de ensino-aprendizagem, de contingências econômicas e culturais, inclusive. E isso vai se tornar ainda mais acentuado com uma avaliação precária. Todas as pesquisas acadêmicas mostram que a construção de vínculos é algo fundamental no processo de ensino-aprendizagem”, enfatiza.

 PRESERVAÇÃO DOS DIREITOS 

Marcos Barreto traz importantes considerações sobre as consequências que a uberização do trabalho docente pode acarretar e os direitos dos trabalhadores que não são preservados.  “É preciso fazer uma avaliação bastante cuidadosa pois, temos algumas consequências imediatas, como a precarização das relações de trabalho. O profissional não tem estabilidade, nem regularidade no pagamento. Ele vai precisar todos os dias ‘torcer’ para ter uma vaga e ser chamado. O aplicativo não oferece nenhum tipo de segurança previdenciária, de assistência ou garantias”, alerta o sindicalista.

PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO 

Especializado no mundo do trabalho, Marcio Pochmann, economista,  pesquisador e professor da Unicamp, além, de ex-presidente do Ipea, afirma que trata-se de precarização do trabalho do professor. Em sua conta no twitter ele destaca que, após ser autorizado esse tipo de contratação pelo Governo Temer há dois anos com a Lei Nº 13.467/17 (da Reforma Trabalhista), “começou a instalação da uberização nacional da docência privada”, que para ele, trata-se da antessala da educação pública, a ocorrer por “cadastramento de professores” para servir ao processo contínuo de substituição em aulas presenciais ou não, em qualquer local do país.

O próprio gestor do aplicativo define o serviço como “uma espécie de Uber Educacional” em que professores aprovados no Processo Seletivo têm a garantia de receber pelas aulas que ministrarem (presencial ou a distância). Conforme o site qualquer unidade escolar, de Ciclo II, Ensino Médio, Técnico, e IES (Superior) do Brasil cadastrada no serviço pode solicitar a aula por meio da Plataforma Web e os professores habilitados na aula solicitada, são chamados pelo aplicativo, e podem aceitar ou não. Da mesma forma que uma chamada de Uber.

Obviamente os docentes que quiserem fazer parte da plataforma precisam pagar um valor para a inscrição. Os candidatos preenchem o formulário, postam os documentos solicitados e gravam uma vídeo-aula de até 5 minutos em alguma disciplina de sua graduação ou licenciatura como se fosse se candidatar ao Big Brother. O valor da hora aula será o que a Unidade Escolar solicitante paga para seus professores.

A APLB-Sindicato defende não apenas os direitos dos trabalhadores em Educação, mas também uma educação de qualidade e a oferta de concursos públicos. Por isso, se contrapõe a esta oferta de serviço, pois, no processo de aprendizagem já existem deficiências e quando se pensa no trabalho docente, esse tipo de oferta deixa a situação mais complicada ainda.

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