SALVADOR 471 ANOS: A RIQUEZA E A DESIGUALDADE DA CIDADE DA BAHIA – confira o artigo do professor Marcos Barreto, diretor da APLB
SALVADOR 471 ANOS: A RIQUEZA E A DESIGUALDADE DA CIDADE DA BAHIA.
Marcos Marcelo Barreto
(professor, músico, diretor da APLB-Sindicato).
Andar em Salvador e encontrar a beleza do Farol da Barra, a majestosa Praça do Campo Grande, a riqueza do Corredor da Vitória nos enche
Fomos a primeira capital do Brasil Império e coube a Tomé de Souza a tarefa de iniciar o nosso ordenamento citadino. Nosso Centro Histórico registra as marcas do desenvolvimento da época que imperadores e reis circularam pelo Brasil. É um retrato quase poético de uma nação que viu seu nascimento sob as bênçãos da Baía de Todos os Santos!
A Cidade da Bahia, que com seus fortes enfrentou invasões de estrangeiros, que participou ativamente para a Independência do Brasil, que possui um sincretismo que coloca lado a lado pessoas com crenças, culturas e etnias diversas, pode ser um exemplo para o mundo.
Contudo, quando percorremos um pouco mais, descobrimos o Quartel dos Aflitos, a Rua da Forca, a Praça da Piedade e a Rua do Cabeça, que cumpriam o ritos finais daqueles que – condenados pelos representantes da Coroa Portuguesa – aguardavam a sentença de execução (por isso Quartel dos Aflitos), desfilavam pela Rua da Forca e chegavam à Praça da Piedade, onde teriam a última chance de clemência do governador (poucos conseguiram), e, após o trabalho do carrasco, serviam de exemplo ao serem expostos decapitados em estacas na Rua do Cabeça…
Essa realidade persiste, ainda que muito bem disfarçada…
Salvador é cercada pela desigualdade econômica, herança de uma cultura escravagista ainda presente nas ações de nossos governantes. Nossas favelas, hoje chamadas de comunidades, secularmente relegadas aos últimos planos pelo poder público, que mantem limpa e organizada a dita zona nobre da cidade. Acreditem, até as crenças, cultos e mitos são impostos como forma de controle social e político. Eles temem outras revoltas como Búzios, Sabinada ou a Conjuração Baiana.
A nossa alegria é uma forma de esconder nossa tristeza. O nosso canto é um protesto contra a dor que nos aflige. Nossa dança é um ato de resistência e afronta ao sistema que ainda escraviza nossos corpos para um regime de trabalho no qual nosso povo pobre, periférico ou/e preto, seja Jeje, Banto ou Nagô, continua preso em grilhões do colonialismo, do racismo institucional e da dominação dos aparelhos das religiões eurocêntricas.
A luta é marca do soteropolitano. Os desafios que enfrentamos hoje nos fará lembrar o espírito e a consciência política daqueles que derramaram sangue, suor e lágrimas e nos trouxeram bravamente até aqui.
Hoje Salvador, ao cantarmos “Parabéns pra você”, também vamos evocar o legado de nossos ancestrais!
“Animai-vos, povo bahiense, que está por chegar o tempo feliz da nossa liberdade, o tempo em que seremos todos irmãos, o tempo em que seremos todos iguais”.
(Lema da Revolta dos Búzios).