Quando negros serão maioria em universidades privadas?
Por Dodô Azevedo*
Pela primeira vez, segundo o IBGE, negros são maioria em universidades públicas.
O IBGE também divulgou que negros são 75% entre os mais pobres. Brancos, 70% entre os mais ricos.
Por quais motivos a maioria se deu em universidades públicas e não em instituições privadas?
Instituições privadas são pagas.
Os mais pobres, tenham eles a cor de pele que tiverem, não podem pagar universidades privadas.
Imagine um mundo sem universidades públicas: Você acha certo quem não tem dinheiro para estudar ficar sem estudo para o resto da vida?
Quem fica sem estudo para o resto da vida não sai da linha de pobreza.
Não consegue pagar universidades para seus filhos. E seus filhos não conseguem pagar para os seus netos. Três gerações não conseguem sair da linha da pobreza.
Três gerações correspondem a 130 anos de vida ativa no mercado.
Já os filhos e os netos de quem tem dinheiro para pagar por educação de nível superior, puderam estar entre os mais ricos nos últimos 130 anos.
E poderão continuar entre os mais ricos nos próximos 130 anos.
Em 2019 fez 131 anos que a Lei Áurea foi assinada no Brasil, terminando com a escravidão.
131 anos em que negros foram diretamente jogados na linha de pobreza, sem a inferência do Estado.
A ausência de inferência do Estado sobre esta questão foi uma política pública. Foi o Estado informando que tipo de país ele quer. Que tipo de país ele precisa ser.
Para que poucos tenham muito, o país precisa ser desigual, disse o Estado.
O Estado regulado pelo interesse do mercado. O Estado regulado pela vontade do dinheiro.
As universidades públicas são do Estado. O Estado, recentemente, resolveu inverter o jogo e praticar políticas públicas que dizem que não se quer mais um país onde poucos ganham muitos e muitos ganham poucos.
Inverter. O Estado passar a regular a vontade do dinheiro.
Porém, estas novas políticas públicas continuam recebendo críticas de uma parcela da população.
Essa parcela da população costuma dizer que não deveriam existir universidades públicas. Que não deveria existir nada público. Que tudo deveria ser privado.
Que o dinheiro, como no dia do Juízo Final, trata de julgar os bons e os maus: quem deve e quem não deve participar do grupo dos ricos e do grupo dos pobres.
Pelo julgamento dinheiro, fica tudo como sempre esteve.
A lógica do dinheiro sem a regulação do Estado é um absurdo muito bem pensado para conservar as coisas como são.
Muito bem pensando por quem quer, enfim, conservar.
Conservadores são contra a regulação do Estado sobre o dinheiro.
A lógica do dinheiro sem a regulação do Estado é: só sai da linha de pobreza quem tiver dinheiro.
E é por isso que negros não são maioria em universidades privadas.
Dodô Azevedo é jornalista, escritor, roteirista, cineasta e professor de história e filosofia*