Bullying tem efeito devastador na Educação e pode levar ao suicídio – Pesquisa expõe que 45% das secretarias de educação têm deficiências graves na gestão de questões críticas

Bullying tem efeito devastador na Educação e pode levar ao suicídio – Pesquisa expõe que 45% das secretarias de educação têm deficiências graves na gestão de questões críticas

Análise mostra falhas estruturais graves no gerenciamento de questões críticas como bullying, violência e discriminação; estudo recomenda o desenvolvimento de protocolos

DESPREPARO: Apenas 4,1% das secretarias foram definidas no nível máximo, diminuindo uma estrutura robusta com políticas integradas e eficazes  (teamjackson/AdobeStock/Reprodução)

Um estudo conduzido pelo Núcleo de Pesquisa em Desigualdades Escolares da Universidade Federal de Minas Gerais (Nupede/UFMG), com apoio do Centro Lemann, revelou uma realidade preocupante nas escolas brasileiras: 45,4% das secretarias de educação não possuem estrutura adequada para lidar com questões críticas como violência, racismo e bullying. A pesquisa abrangeu 196 secretarias estaduais e municipais em todas as regiões do país, destacando a fragilidade do sistema educacional brasileiro em garantir um ambiente escolar seguro e inclusivo para todos os estudantes.

A pesquisa categorizou como secretarias de educação em cinco níveis de estruturação para a gestão do clima escolar. Apenas 4,1% das secretarias foram estratégicas no nível máximo, estabelecendo uma estrutura robusta com políticas integradas e práticas para tratar de temas como equidade de gênero e raça, além de promover um ambiente saudável para a convivência escolar. No entanto, a maior parte das secretarias (45,4%) foi considerada apenas parcialmente estruturada, o que significa que, embora existam iniciativas, elas são insuficientes para enfrentar os desafios complexos que surgem no cotidiano escolar.

Ainda de acordo com o levantamento, 33,2% das secretarias estão em níveis ainda mais baixos , categorizados como “incipientes” ou “pouco estruturados”. Essas secretarias carecem de estratégias claras e de uma comunicação eficaz com as escolas para identificar, entrevistar e monitorar situações que possam comprometer o clima escolar. A pesquisa também destacou a necessidade de incluir a questão do clima escolar em documentos como o Plano Político-Pedagógico das escolas, algo que ainda é negligenciado em muitos casos.

Ações e recomendações

O estudo recomenda que as secretarias de educação mapeiem ações e estratégias com base em dados precisos e na perspectiva de diferentes atores, para produzir diagnósticos mais completos do clima escolar. Além disso, sugere que a equidade seja incluída nos instrumentos de mensuração do clima escolar, utilizando marcadores como condição socioeconômica, cor/raça, gênero, e outros, para garantir que todas as formas de discriminação sejam visibilizadas e combatidas.

Outras recomendações incluem o desenvolvimento de protocolos para lidar com indisciplina, bullying e violência, além da formação continuada dos profissionais de educação sobre como identificar e intervir em situações de discriminação que muitas vezes são invisibilizadas. 

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Tragédia Antes da Aula – Bullying e Suicídio

O aluno bolsista Pedro Henrique Oliveira dos Santos, do Colégio Bandeirantes, escola de elite de São Paulo, relatou episódios de bullying para a família antes de cometer suicídio na última segunda-feira (12/08). “Fizeram chacota de mim por eu ser gay”, “Vontade de nunca mais pisar de novo. Me humilharam (na frente) da sala inteira. Eu não aguento mais. Eu fiquei trancado no banheiro por 50 minutos, chorando. Ficaram me humilhando” são algumas das mensagens enviadas pelo adolescente, Pedro Henrique, para a mãe. Os trechos foram divulgadas pela Revista Piauí.

A APLB-Sindicato se solidariza com os familiares e amigos do estudante, além de toda a comunidade escolar  pelo triste acontecimento e reafirma a necessidade do combate ao bullying nas escolas. “Em nome da APLB-Sindicato expresso nossa profunda solidariedade aos familiares e amigos do estudante que infelizmente tirou sua própria vida, assim como a toda a comunidade escolar afetada por essa tragédia. Este é um momento de grande tristeza e reflexão. Reafirmamos com veemência a necessidade urgente de intensificarmos o combate ao bullying nas escolas, para que possamos construir um ambiente educacional mais acolhedor e seguro para todos os nossos alunos. Devemos estar unidos na missão de promover a dignidade e o respeito, prevenindo situações de violência e oferecendo o suporte necessário para que todos se sintam valorizados e protegidos”, destaca Rui Oliveira, Coordenador-Geral da APLB-Sindicato.

Denúncia

Pedro combinou com a sua mãe de levar o caso à coordenação do Ismart (Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos), que concede bolsas para alunos de baixa renda em colégios nobres em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Após um período, ele relatou à mãe que um praticante de bullying tomou alguma suspensão e não tocou mais no assunto. 

“A verdade é que temos origem humilde e a minha mãe sabe que apenas com uma educação podemos ascender. Ela tinha medo de meu irmão perder a bolsa […] Muito provavelmente por medo de preocupar e desapontar meus pais, que sonham com uma boa educação, meu irmão não reclamou mais. Até ele não suportar a dor”, contou o irmão mais velho. 

Um dia antes do suicídio, ele tentou tirar sua vida, mas foi impedido a tempo pelo irmão.

Negro, periférico e abertamente gay, Pedro estudava no Bandeirantes há um ano e meio. Ele passou por um rigoroso processo seletivo feito em seis etapas, que inclui duas provas e entrevista, até conseguir a bolsa integral. Na escola, no entanto, ele fez poucos amigos e o bullying teria começado neste ano.

A morte do adolescente repercutiu nas redes sociais após uma publicação de seu tio. “Perdemos o Pedro para o bullying, para a homofobia e, principalmente, para o descaso do colégio”, dizia um trecho do texto. Na segunda-feira, 19, um grupo de alunos do Bandeirantes protestou em frente a escola. Segundo a publicação, o Bandeirantes enviou uma coroa de flores para seu velório, e nunca mais entrou em contato com seus pais. A instituição afirmou que, em maio deste ano, o jovem relatou um episódio de provocação pontual, mas que foi acolhido e apoiado pela escola.

URGÊNCIA

Os dados da pesquisa do Nupede/UFMG evidenciam a urgência de fortalecer a gestão do clima escolar no Brasil. Sem um ambiente seguro e inclusivo, o desempenho acadêmico e o bem-estar dos estudantes ficam comprometidos. Para garantir ambientes escolares verdadeiramente seguros, as secretarias de educação precisam investir em políticas mais estruturadas e eficazes, capazes de proteger todos os estudantes da violência e discriminação.

Fonte:

https://veja.abril.com.br/

https://www.terra.com.br/

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