NEM Amplia Desigualdades: Enem 2023 Mostra Aumento das Disparidades Entre Escolas Públicas e Privadas

NEM Amplia Desigualdades: Enem 2023 Mostra Aumento das Disparidades Entre Escolas Públicas e Privadas

Ano foi o primeiro com a mudança do Novo Ensino Médio, e reverte diminuição de desigualdade registrada desde 2019. APLB defende a revogação.

Estudantes chegam para o segundo dia do Enem 2023 em Brasília: exame reverteu tendência de diminuição da desigualdade que vinha de 2019 — Foto: Cristiano Mariz/2023

O Enem 2023 trouxe à tona um problema que a APLB-Sindicato já havia antecipado: a desigualdade crescente entre estudantes oriundos do ensino público e de escolas particulares. A diferença de desempenho entre escolas públicas e privadas cresceu no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) de 2023, em Matemática e Ciências da Natureza. O resultado reverte uma tendência de diminuição da desigualdade que era registrada desde 2019. Esse foi o primeiro ano em que parte dos estudantes fez a prova após a mudança para o Novo Ensino Médio.

Especialistas apontam que o modelo, que já foi reformulado este ano após diversas críticas, pode ter pesado nesse resultado. A nota em Matemática das escolas públicas caiu de 507 para 503. Já a das privadas subiu de 601 para 618. Em Ciências da Natureza, as mudanças foram de 473 para 472 e de 530 para 541, respectivamente. Os dados do Inep foram obtidos pelo SAS Educação, uma plataforma de ensino usada por 1,2 mil escolas no Brasil, e disponibilizados com exclusividade ao GLOBO.

A APLB-Sindicato, que tem lutado pela revogação do novo ensino médio, vê no aumento das desigualdades uma evidência clara de que as mudanças promovidas não estão atendendo ao objetivo de uma educação mais equitativa. A entidade defende que é fundamental reverter essas reformas e implementar políticas que garantam uma educação de qualidade para todos os estudantes, independentemente da rede de ensino. O futuro dos nossos jovens depende de ações que promovam justiça e igualdade no sistema educacional, e o Enem 2023 nos lembra da urgência dessa missão.

Segundo o coordenador-geral da APLB-Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia, professor Rui Oliveira, um dos elementos que torna essa reforma ainda mais desigual diz respeito à aplicação dos itinerários formativos. Com problemas que vão desde a má remuneração dos professores, passando por más condições de trabalho, falta de concursos públicos, problemas de infraestrutura e falta de investimentos e de formação dos docentes, as escolas públicas acabam sendo as mais prejudicadas com essa obrigação de implementação dos itinerários formativos.

“Algumas pessoas defendem que os estudantes podem optar por escolher itinerários formativos que eles sejam mais próximos. Porém, vivenciamos uma outra realidade pois, metade dos municípios do Brasil tem uma única escola de ensino médio que mal dá conta de oferecer uma formação padrão para todo mundo. Essas escolas não vão conseguir ou não estão conseguindo oferecer os diversos itinerários formativos”, critica Rui.

Desigualdade

— A prova de Matemática deste ano foi um pouco mais fácil do que as anteriores. Mas os estudantes das escolas públicas foram pior nas habilidades mais básicas do teste. Isso aconteceu com Ciências da Natureza também e fez com que as notas caíssem — analisou Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações do SAS Educação.

A lei do Novo Ensino Médio, de 2017, previa que todas as escolas adotassem o modelo a partir de 2022. No entanto, em 2021, o estado de São Paulo antecipou esse calendário e instituiu o novo formato em todas as escolas. Mato Grosso do Sul e Santa Catarina também adotaram o modelo em parte da rede. Além disso, diversos estados fizeram essa transição com escolas-piloto.

Os alunos que começaram o ensino médio em 2021 acabaram fazendo o Enem em 2023. Os estudantes do Novo Ensino Médio, porém, tiveram 25% menos aulas de Matemática e 34% de Ciências da Natureza, segundo análise de O GLOBO nos currículos estaduais.

“Defendemos a revogação! O Novo Ensino Médio aprofunda as desigualdades e, sem dúvida, essa reforma teve impacto na nota do Enem 2023. Os mais vulneráveis são os mais prejudicados, sempre. Escola indígena, quilombola, rural, de assentamento, EJA [educação de jovens e adultos], classes penitenciárias, regiões pobres do estado: todas são escolas com menos itinerários formativos à escolha dos alunos”, ressalta Rui Oliveira.

Desde 2023, estudantes do Novo Ensino Médio não têm todas as disciplinas básicas no último ano do ensino médio, quando é realizado o Enem. É comum, por exemplo, que uma ou duas das aulas de Ciências da Natureza (Química, Física e Biologia) fiquem de fora da grade curricular.

No lugar dessas aulas, são oferecidas disciplinas dos itinerários formativos, a parte flexível do currículo, que não atenderam à expectativa de aprofundamento curricular que se esperava delas.

— Esse impacto de não ter as aulas de Ciências da Natureza no 3º ano do ensino médio tem muito peso. É nesse momento que os alunos precisam ter mais contato com exemplos e exercícios de preparação. As escolas privadas tiveram isso com aulas a mais, o que causou essa discrepância maior nas notas — avalia o especialista do SAS Educação.

Nova reforma

Em 2024, todos os alunos que farão o Enem terão se formado por esse mesmo modelo do Novo Ensino Médio. A mudança deste formato foi aprovada pelo Congresso neste ano e passará a valer a partir de 2025, com mais aulas de disciplinas básicas distribuídas em todos os anos.

Alguns estados já haviam iniciado um movimento para contornar esses problemas. São Paulo, por exemplo, anunciou no fim de 2023 que aumentaria o número de aulas de Matemática em 70% e incluiria novamente aulas de Física, Geografia e História no ano do Enem. Em nota, o estado afirmou que tomou essa medida para melhorar os resultados e a aprendizagem dos estudantes.

Na avaliação de Ivan Gontijo, Gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, a diferença de implementação do Novo Ensino Médio nas redes públicas e privadas pode explicar o resultado. Ele também aponta o aumento do número de inscritos em 2023 como uma hipótese:

— O número de participantes subiu em 2023 após vários anos de baixa participação. Podemos entender que os alunos menos preparados não fizeram a prova nos anos anteriores e voltaram a fazer agora.

Em Ciências Humanas e Linguagens, o desempenho dos alunos de escolas públicas acompanhou seus concorrentes das privadas — ambos tiveram leve melhora. O destaque foi em Redação, em que os estudantes de redes públicas cresceram 31 pontos, contra 17 dos colégios particulares.

*Com informações: O Globo

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