Seminário sobre Os 50 anos do Golpe Militar encerra as atividades da greve nacional em Salvador

Seminário sobre Os 50 anos do Golpe Militar encerra as atividades da greve nacional em Salvador

Tristeza, revolta, emoção e esperança marcaram o seminário realizado pela APLB-Sindicato nesta quarta-feira (19), no colégio Central que abordou o tema “50 anos do Golpe Militar- Esse Brasil Nunca Mais”. A exposição fotográfica assim como os depoimentos e relatos de pessoas que viveram o horror da ditadura tocou o público e trouxe à tona a participação da APLB-Sindicato como uma entidade sindical presente na resistência, que lutou pela liberdade, na época ainda a Associação dos Professores Licenciados da Bahia. A ação além de integrar o terceiro dia da Greve Nacional, convocada pela CNTE, teve o objetivo de colher depoimentos para a criação de um vídeo temático, a ser utilizado como material didático em práticas pedagógicas voltadas para os jovens.

Para a diretora Elza Melo, que se pronunciou ao final do evento, o seminário foi uma verdadeira aula de história sobre o período da ditadura militar, contada por pessoas que viveram e sobreviveram àqueles anos sombrios, falando de suas trajetórias políticas de luta e resistência e trazendo a memória dos que tombaram em defesa de seus ideais de liberdade. “É preciso que a gente dê continuidade a esta luta, até conquistarmos a sociedade que queremos, uma sociedade mais igual e socialista, sem fome, sem analfabetismo e sem desemprego, onde todos tenham os mesmos direitos’, conclamou.

O evento foi organizado pela Comissão de Educação formada pelas diretoras Olívia Mendes, Gercyjalda Silva, Valdice Edington e Claudenice Barbosa. Sobre o vídeo que será construído durante o seminário, Olívia argumenta que o período da ditadura não é discutido de forma ampla nas escolas e é necessário que a experiência de pessoas envolvidas direta ou indiretamente no tema seja divulgada entre os mais jovens.

“Nós incluímos esta discussão nestes três dias de greve nacional para mais uma vez reafirmar a luta da APLB-Sindicato na construção de uma sociedade livre, fraterna, mais justa e solidária”, explica Olivia Mendes, acrescentando que a educação é uma estratégia para atingir este objetivo. Ela declara ainda que o seminário nestes 50 anos do Golpe Militar deve servir para manter a nossa memória sobre este período no Brasil “e que não queremos que se repita”, reitera.

Homenagem

Após o seminário, foi realizado um ato simbólico em defesa da Democracia. Uma muda da árvore Ipê Amarelo foi plantada no pátio do Colégio Central, com o objetivo de homenagear a militante política Loreta Valadares, e por extensão a força das mulheres brasileiras. Para o médico e militante Carlos Valadares, a iniciativa da APLB-Sindicato é muito importante e significativa. “Escolher este local e homenagear a figura de Loreta traz ela de volta à cena e a faz reviver como um impulsionamento para que a gente continue avançando na luta pela emancipação das mulheres. O seminário também é um marco importante para não deixar cair no esquecimento os crimes cometidos pela ditadura”, ressaltou.

Diva Santana, que integra o Grupo Tortura Nunca Mais, trouxe à tona fatos vividos na época e lamentou as mortes e casos de pessoas desaparecidas até hoje. “Precisamos enterrar nossos mortos. Muitas famílias até hoje ainda lutam com o sofrimento e a esperança. Esse debate não se encerra aqui”, afirmou.

O presidente da CTB-Ba, Aurino Pedreira destacou a legitimidade da APLB e a necessidade de se dialogar com a juventude do País sobre o tema. “Este seminário talvez seja um dos eventos mais importantes que a APLB já realizou”, ponderou.

O diretor de imprensa da APLB Nivaldino Félix, militante do PCdoB e um dos que foram presos durante a ditadura, classificou o golpe como de natureza civil militar, pelo fato de ter contado com o apoio de algumas figuras nefastas da sociedade civil, a exemplo dos organizadores da Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Ele destacou a sua participação na luta de resistência ao regime, feita a partir da atuação na reorganização dos movimentos social negro e comunitário, através de ações políticas e culturais.

O vice-presidente do Conselho Estadual de Educação, Sérgio Guerra, ex-coordenador da APLB-Sindicato e militante politico contra a ditadura militar, destacou o processo de resistência da sociedade civil ao nefasto regime, lembrando que o trabalho de reconstrução dos movimentos sociais iniciou desde os primeiros anos da ditadura, apesar de toda a repressão. “Tudo que a ditadura destruiu nós estamos reconstruindo e os professores são grandes heróis nesse processo. A APLB que enfrentou muito bem a ditadura é minha grande escola e muito me representa”, enfatizou.

Também fizeram parte da mesa, Orlando da Cruz, vítima da ditadura; a professora Edenice Santana; a diretora Gercijalda Silva; João Henrique, representante do Conselho Estadual de Educação e o poeta e ativista político Roque Assunção (Tarugo).

O final do evento, foi marcado por um momento de grande emoção, quando todos os participantes, de mãos dadas, entoaram Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores, de Geraldo Vandré, canção hino da resistência à ditadura militar.

O seminário encerra a agenda de mobilização da greve nacional em Salvador, em que durante três dias (17, 18 e 19 de março), os trabalhadores em educação realizaram diversas manifestações em defesa do cumprimento da lei do piso, carreira e jornada, a garantia de mais investimentos para a educação e a votação do PNE. O movimento aderiu à greve nacional convocada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), que tem como principais bandeiras:

• Cumprimento da lei do Piso, Carreira e Jornada;

• Investimento dos royalties de petróleo na valorização da categoria;

• Votação imediata do Plano Nacional de Educação;

• Destinação de 10% do PIB para a educação pública e contra a proposta dos governadores e o INPC.

Crédito das fotos: Getúlio Lefundes

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