Em debate na Câmara, Alfa e Beto é classificado como “uma vergonha” e “absurdo”

Em debate na Câmara, Alfa e Beto é classificado como “uma vergonha” e “absurdo”

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Crédito da Foto: Getúlio Lefundes

Quem ainda não possuía a verdadeira dimensão do “estrago” que o Programa Alfa e Beto deve deixar como legado para as crianças da Rede Municipal de ensino, tomou conhecimento da extensão do problema na manhã desta segunda-feira (25), durante a audiência pública promovida pela Comissão de Educação da Câmara Municipal de Vereadores. A diretora Jacilene Nascimento fez parte da Mesa, representando a APLB-Sindicato e denunciou o assédio e a pressão que alguns diretores de escola, estão infringindo aos educadores que se declaram contra a adoção do programa.

De acordo com Jacilene, grande parte das escolas que escolheram adotar o Alfa e Beto possuem diretores que foram nomeados pelo então secretário Municipal de Educação João Carlos Bacelar, o que pode ser o motivo que está impedindo estes profissionais a dizer “não” ao programa. “Escolas que ganharam o Prêmio de Excelência em Qualidade na Educação não aceitaram o Alfa e Beto. As universidades e pesquisadores estão dizendo “não”, mas 80% das escolas que fizeram a opção pelo programa, possuem diretores que foram nomeados diretamente pelo secretário de Educação e não eleitos”, afirmou.

 Debate não existiu

A diretora da entidade também rebateu as declarações de Eliezer Cruz, chefe de gabinete da Secretaria de Educação que participou da audiência representando o secretário Bacelar. Jacilene explicou que ao contrário do que Eliezer informou o programa Alfa e Beto não foi discutido de maneira ampla. “A APLB só tomou conhecimento do programa durante visita às escolas, na semana pedagógica, através de alguns professores que se mostraram estarrecidos com a “receita de bolo”, que apresenta um passo à passo independente do aluno e de onde estivessem”, disse Jacilene.

A diretora apresentou mais denúncias do flagrante desrespeito pelos professores e pelo Sindicato que representa a categoria. “Pedi o material, que demorou 25 dias para ser entregue pela Secretaria, porém de forma incompleta. Precisei então pedir emprestado a alguns professores”, pontuou. Ela enfatizou que a APLB-Sindicato não descansará enquanto toda a sociedade civil não estiver a par do conteúdo sexista, racista, homofóbico e preconceituoso do programa.

O presidente da Comissão de Educação da Câmara, o vereador Silvio Humberto solicitou a ampliação do prazo para que as escolas se coloquem contra ou à favor da adoção do programa. A Secretaria estipulou um prazo até o dia 28 deste mês.

Ação desastrosa

Durante a audiência e para a surpresa do público, Eliezer Cruz declarou que não era a favor do programa Alfa e Beto. “Em momento algum eu defendi o Alfa e Beto. Apenas estou em uma posição institucional que me obriga a participar e representar a Secretaria nesta audiência. Sou sim, um defensor ferrenho do diálogo e também defendi que o programa fosse todo revisado, inclusive até retirado alguns textos. A ação da secretaria foi “desastrosa” em não debater amplamente o programa. A discussão foi interna”, concluiu.

Eliezer também fez declarações em relação à crítica de Jacilene no que diz respeito aos diretores nomeados pelo secretário. “É lógico que ele tem que escolher àqueles de sua confiança”, disparou.

Choque total

A pesquisadora e professora adjunta do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Valquiria Claudete Machado após se debruçar em estudos sobre o programa Alfa e Beto se disse bastante ofendida e o considerou como arcaico, ultrapassado e inadequado. “O Alfa e Beto é uma vergonha, um absurdo, fiquei chocada e ofendida. O manual é ridículo! A palavra de ordem é choque total”, afirmou a professora que é doutora em Letras e Linguística e também integra o programa de pós graduação de Mestrado Profissional em Educação de Jovens e Adultos (MPEJA). A vice-diretora da Faculdade de Educação do Estado da Bahia, Dinéia Maria Sobral Muniz, também se declarou contra o Alfa e Beto e disse que a Secretaria deveria repudiar o programa.

O professor e pesquisador Walter Takemoto declarou ser estranho gastar milhões com a adoção do Alfa e Beto quando as escolas necessitam urgente de reparos físicos. “Deixaram de utilizar os livros didáticos fornecidos pelo Ministério da Educação, e que são avaliados por especialistas de universidades públicas, sem custos para os cofres públicos estaduais e municipais, para comprarem os pacotes vendidos por essas empresas sob a promessa que os alunos terão um ensino equivalente ao oferecido pelas escolas privadas. Ou seja, os secretários criam uma despesa desnecessária, e elevada, que além de tudo representa uma afronta aos profissionais da educação, das secretarias e escolas, pois os pacotes desqualificam, também, a função docente, a importância do professor em sala de aula e na relação com os seus alunos, ao colocá-los na condição de “aplicadores” das atividades determinadas pelos materiais”, concluiu.

Participaram também da audiência, os diretores da APLB-Sindicato, Claudemir Nonato e Gercyjalda Rosa da Silva; o presidente da Comissão de Educação,  vereador Silvio Humberto e demais membros da Comissão, os vereadores Hilton Coelho, Heber Santana, Everaldo Augusto e a vereadora Ana Rita Tavares.

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