“Nós queremos o retorno da educação, mas não vamos aceitar imposição para ir ao ‘corredor da morte’, protesta Rui Oliveira
A direção da APLB-Sindicato não concorda que aulas podem voltar em março, em Salvador, desde que números da pandemia recuem. O coordenador-geral Rui Oliveira defende a vacinação dos profissionais em Educação como público prioritário e acredita que voltar às aulas presenciais sem a imunização é como “enviar os trabalhadores em Educação para o corredor da morte.”
Já para a prefeitura de Salvador, o mês de março está no horizonte, com a possibilidade da volta às aulas através de um formato híbrido, presencial e virtual.
Fonte: Tribuna da Bahia
Com o começo da pandemia de Covid-19, em março de 2020, uma das atividades que teve de suspender as atividades foram às escolas, implicando em uma mudança radical na vida de pais, alunos e professores, seja da rede pública ou da rede privada de ensino. Desde então, com o aumento dos conhecimentos sobre a doença e a adoção de diversos protocolos para evitar a transmissão, uma das perguntas que mais se tem feito, desde justamente o ano passado, foi: quando as aulas vão retornar?
Um primeiro passo chegou a ser dado, com a retomada do ensino superior, ainda em dezembro. A ideia era a de que, a cada 15 dias e desde que os números do novo coronavírus continuassem caindo na capital baiana, os demais fossem retomando, como os ensinos médio, fundamental e infantil. Mas, vieram as festas de fim de ano e o início de 2021: a situação voltou a piorar na cidade. O tema, por sua vez, continua em discussão.
Para a prefeitura de Salvador, o mês de março está no horizonte, com a possibilidade da volta às aulas através de um formato híbrido, presencial e virtual – a depender da estrutura da escola, a capacidade seria reduzida para 50% ou 30% do total de alunos. Além disso, de acordo com o secretário municipal de Educação, Marcelo Oliveira, o lanche às crianças seria servido dentro das salas de aula e o horário do recreio seria dividido entre as séries para evitar aglomerações entre os alunos.
Porém, apesar de contar com o apoio de pais de alunos que fazem parte de movimentos que querem a retomada das atividades escolares e de membros do Sindicato das Escolas Particulares de Salvador (Sinepe), o titular do órgão municipal terá um obstáculo pela frente: convencer os professores. Para o presidente do sindicato que representa a categoria na Bahia, Rui Oliveira, que também participou do evento de anteontem, 26, os docentes só voltarão às atividades desde que estejam vacinados.
“Nós queremos o retorno da educação. Contudo, fizemos uma pesquisa em 331 municípios da Bahia, com 13 mil educadores. E a resposta da maioria foi a de que só voltaremos às aulas presenciais com vacina. Não vamos aceitar imposição para ir para o ‘corredor da morte’. Temos interesse em recuperar o ano letivo, mas precisamos garantir a integridade física dos profissionais. E isso passa pela segurança de que os professores serão vacinados”, disse ele, na ocasião.
RECUO
Na manhã de ontem, 27, também entraram na discussão o governador da Bahia, Rui Costa, e o prefeito de Salvador, Bruno Reis. Enquanto o primeiro prefere não dar prazo para esse retorno, uma vez que, segundo ele, a pandemia estar pior do que na primeira fase, o gestor soteropolitano também enxerga março como um período plausível para a volta às aulas. Porém, os dois concordam em dois pontos: a decisão será tomada de forma conjunta e, por sua vez, conforme os índices da Covid-19, no estado, venham a cair. Até meados da tarde de ontem, a taxa de ocupação dos leitos de UTI Adulto, na Bahia, estava em 71%, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab).
“Eu pretendia voltar desde o mês de outubro, mas os técnicos da secretaria de Saúde nos chamaram atenção de grandes aglomerações do período eleitoral, e de um certo relaxamento por parte da juventude, e que isso poderia gerar uma alta na contaminação. Infelizmente, os técnicos tinham razão, e o que vimos, não só na Bahia, foi um crescimento acelerado da doença”, disse o governador em entrevista a uma rádio, ontem. Apesar disso, o gestor concordou que as atividades escolares deveriam retornar o mais rápido possível em todo o estado.
Já Bruno Reis, apesar de definir o mês de março como uma possibilidade de volta às aulas, na capital, reforçou que o processo acontecerá de forma escalonada: inicialmente os alunos do Ensino Médio, seguido dos do Ensino Fundamental e, por último, aqueles que fazem parte do Ensino Infantil, cuja preocupação tem sido a maior por parte do poder público. Ainda que tenham pouca chance de se infectar com a Covid-19, os pequenos podem servir como transmissores da doença, caso morem na mesma residência de pessoas com mais idade.
“A nossa equipe está conversando com o governo do Estado sobre o assunto. O que vai definir será o estágio da pandemia. Se estiver tudo sob controle, teremos condições de voltar em março. Os protocolos estão sendo discutidos e vamos chegar a um entendimento. Porém, não há como ficar dois anos sem estudar. Você percebe um desejo das crianças para o retorno, mas não é isso que vai determinar. O que vai determinar o retorno são os números”, comentou o prefeito da capital baiana.
Porém, para a bióloga Luciana Leite que tem dois filhos, um deles em idade escolar, as aulas já teriam voltado, ainda que no formato híbrido ou com salas reduzidas. Isso, de acordo com ela, observando os danos causados pela ausência da escola na vida das crianças. “Não tem porque abrir cinema e comércio e não abrir escola. É uma contradição imensa. Tem muita criança sofrendo muito, por exemplo, com violência, restrição de alimentação, entre outras coisas por não estar indo à escola. Entendo a escola como medida protetiva para crianças em vulnerabilidade. Ao mesmo tempo, sei do risco do retorno às aulas. Não quero que meus filhos e nem ninguém se contamine”, diz.