A formatação vesga do olhar diante de óbvios absurdos

A formatação vesga do olhar diante de óbvios absurdos

Por Márcia Freitas – Professora da rede pública do Estado da Bahia

Bem mais temerosos devem ser os olhares lançados sobre todos os indícios de ideologias ou ações totalitárias de organismos sociais ou do estado, não sobre o movimento das classes trabalhadoras desvalorizadas historicamente, assim como temos visto atualmente com os professores da rede estadual da Bahia. O cerceamento da liberdade de expressão; a desvalorização do trabalho; a modelagem das informações ou o quase absoluto silencio da imprensa diante das mobilizações sociais representam formas coersitivas formais, expressas ou simbólicas, típicas de sistemas absolutistas que tentam negar as mobilizações dos trabalhadores e ferem sistematicamente a dignidade humana destes cidadãos.

Enquanto a sociedade civil não compreender seu real poder e fundamental importância no processo de fiscalização e ordenamento de suas representações formais, continuará sendo vitimizada pelos poderes instituídos por ela própria. Pois, ao negarem direitos básicos aos cidadãos, negam princípios inerentes às sociedades democráticas, tais como: garantia de políticas que visem a formação e integridade plena da pessoa humana a partir da oferta de serviços básicos de qualidade como educação, saúde e segurança.

A subserviência pelo temor ou por conveniências pessoais, gerada e mantida pelo desconhecimento de direitos civis concernente a estados democráticos, tem sido o combustível para a manutenção de controvérsias como as que temos ultimamente relacionadas à greve dos professores da rede estadual da Bahia: Em um governo oriundo dos anseios das classes trabalhadoras, vemos a negação de direitos constitucionais; assedio moral; constrangimentos e humilhações públicas dos trabalhadores; desacato de leis e julgamentos federais, como episódios que tipificam projetos elaborados para a deseducação e negação da construção sólida da condição de cidadania.

Para que os trabalhadores sejam capazes de ultrapassar os parâmetros do fazer meramente laboral e a destreza física dos sujeitos laborais alcance o patamar das decisões baseadas na consciência acerca do saber fazer, precisa haver investimento real na formação intelectual dos cidadãos, caso contrário, poderão ser inúmeros os prejuízos sociais causados pela inversão de processos democráticos, resultando numa sociedade docilizada e condenada à eterna carência de migalhas sociais.

Os processos de resistência e lutas sociais são árduos e, muitas vezes dolorosos, pelos desgastes próprios dos processos de enfrentamento; pelos prejuízos materiais e desgastes psicológicos. Entretanto, é um dos caminhos capazes de expor algumas facetas controversas da aparente normalidade social, assim, desnudas como quem já não receia tanto os pudores peculiares às duras instituições sociais e seus genuínos representantes.

Não há meias palavras capazes de acalmar as convulsões sociais a não ser o reordenamento destas condições sociais por seus próprios sujeitos, e não outros. A realidade é exposta e os segmentos sociais precisam assumir seus posicionamentos frente à crise posta. Mesmo aqueles que não assumem publicamente um juízo de valor, um posicionamento político, o fazem quando calam-se diante de injustiças sociais cometidas, quando da negação de direitos civis, por exemplo.

Ainda assistiremos entristecidos a episódios de desvalorização e desrespeito da sociedade civil; a banalização do abuso de poder, da tirania e prepotência de representantes de políticas autoritárias, enquanto os movimentos reivindicatórios das classes trabalhadoras forem desvalorizadas por seus serviços prestados à sociedade; enquanto forem alvos fáceis de penalizações na tentativa de forçar a desmobilização e o silenciamento dos portadores de vozes contrárias às verdades instituídas; enquanto estas pseudo verdades forem reforçadas pelo desconhecimento dos direitos civis ou os cidadãos forem atormentados por temores próprios da ignorância nutrida pela fragilidade intelectual e emocional financiadas por políticas pseudo democráticas alimentadoras de desejos consumistas frenéticos e completamente descomprometidos com a formação intelectual e política de cidadãos em prol da verdadeira soberania nacional.

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