Alunos reclamam de salas cheias no Colégio Severino Vieira

A TARDE


Salvador, Bahia
Terça-Feira , 15/04/2008

1º Caderno

Alunos querem salas menos cheias

 

LUISA TORREÃO
ltorreao@grupoatarde.com.br

Depois de oito anos ensinando matemática no Colégio Estadual Severino Vieira, Izabel Fernandes terá de trocar a unidade por outra, contra a própria vontade. Ela está entre 31 professores em “situação de excedência”, que terão de ser relocados pela Secretaria de Estadual de Educação (SEC) para outras escolas da rede, a maioria na periferia. Insatisfeitos, os docentes lutam para reverter o quadro.

Durante a manhã e a tarde de ontem, eles estiveram reunidos com a Associação dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB-Sindicato), com a direção do Severino Vieira e representantes da SEC. Hoje, os professores fazem assembléia às 9 horas no colégio para deliberar as propostas de ontem.

A coordenadora de Programação Escolar da SEC, Helonizia Maria Silva, explica que se cumpre uma portaria estadual existente há mais de 10 anos, feita em conjunto com a Secretaria de Administração do Estado (Saeb), que determina 45 alunos por sala no ensino médio. Como isso não vinha ocorrendo no Severino Vieira, está sendo adotado a partir de agora o processo de “enturmação”.

Helenizia admite que diminuir o número de professores significa diminuir custos.

Assim, alunos de diferentes salas passam a compor a mesma turma, deixando excedentes professores responsáveis por uma mesma disciplina, com menos tempo de casa. “Eles estão preocupados em cumprir as normas e nós estamos preocupados com a qualidade de ensino. Com a estrutura física que temos, não dá para comportar 45 alunos numa sala. Quase não dá para se locomover, é um absurdo”, reclama Danielle Brandão, 16 anos.

SOBRA – De acordo com o coordenador de Provimento e Movimentação da SEC, Remi Bomfim, a medida visa balancear o número de docentes nas unidades estaduais.

“Enquanto aqui há professores sobrando, várias escolas estão carentes de profissionais”, justifica. O Severino Vieira tem um quadro de 104 professores, contando os 31 excedentes, para atender 102 turmas em todos os turnos. Enquanto o ano passado encerrou com 800 alunos, hoje há 1700 matriculados.

“A verdade é que tem mais professores do que a necessidade real”, afirma Bomfim. Há nove meses como diretor da escola, Edvaldo Fonseca admite ser exagerado o número de 45 alunos por sala, mas acredita que precisa haver também uma redistribuição de professores. “Claro, a gente precisa reformular muitas coisas, mas hoje a gente cumpre as ordens”, define.

Relatórios de turmas do ano passado apresentadas ontem por Remi Bomfim mostram diversas com maioria de alunos classificados como desistentes – em um deles, havia apenas um aluno aprovado na turma. “Nós detectamos problemas no sistema e toda essa celeuma agora é para a gente resolver isso. Uma tentativa de regularizar a situação, que vem de governos anteriores”, explica Bomfim. Para Helenizia Maria, o que havia antes era uma espécie de “maquiagem” para encobrir o excedente de professores.

QUALIDADE – “Eu não estou entre os excedentes, mas não concordo.

Não posso ficar calada com essa situação, porque amanhã pode ser eu”, diz a professora de geografia Sheise Teixeira. Segundo ela, com a ocupação atual de alunos por sala já é necessário desligar o ventilador para se fazer ouvir e o espaço não é suficiente para garantir conforto. “Eles exigem qualidade de ensino, mas não dão condições para isso”.

Com 32 anos de casa, o professor de educação física Deraldo Ferreira também está do lado dos colegas excedentes. “Esse regimento do Estado está ultrapassado, tem que rever isso aí. Nossas salas comportam 30 alunos, colocar 45 é realmente um absurdo”.

Para a docente Izabel Fernandes, o problema está relacionado à atual gestão. “Em anos anteriores, houve flexibilidade dos diretores e a secretaria sempre aceitou. Este ano é que está acontecendo isso”.

Segundo o diretor de imprensa da APLB, Jorge Carneiro, a tentativa do sindicato é garantir que os professores continuem na unidade escolar de origem, atuando em outras atividades, como reforço escolar.

 

 

 

 

 A TARDE


Salvador, Bahia
Quarta-Feira , 16/04/2008

1º Caderno

Lotação ideal de salas é analisada

 

LUISA TORREÃO
ltorreao@grupoatarde.com.br

Em avaliação conjunta, professores do Colégio Estadual Severino Vieira e membros da Associação de Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB-Sindicato) apontam para 31 o número ideal de alunos em sala de aula. A escola foi escolhida para uma avaliação espacial depois que a Secretaria Estadual de Educação determinou a remoção de 31 professores considerados excedentes em função da enturmação dos alunos (quando se juntam turmas em uma só sala de aula).

A comissão de professores e sindicalistas apresenta os resultados finais da avaliação da escola entre hoje e amanhã. A equipe passou a tarde de ontem fazendo a medição de cada uma das 34 salas da unidade. A avaliação foi feita levando em conta a medida de ocupação do espaço escolar estabelecida como parâmetro pela própria regulamentação da SEC. Nela, o número de alunos por turma é determinado com a divisão da metragem da sala pelo coeficiente de um metro quadrado e 20 centímetros.

“Propomos a medição porque achamos que esse critério não está sendo observado”, afirma o diretor de imprensa da APLB, Jorge Carneiro, um dos mediadores na negociação entre professores excedentes e secretaria.

A determinação estadual é que o ensino médio abarque 45 estudantes por turma.

Segundo Carneiro, cálculos iniciais aproximados dão conta de que em cada sala do Severino Vieira caibam não mais do que 31 alunos, 14 a menos do que o apontado pelo Estado.

FLEXIBILIDADE– O coordenador de provimento e movimentação da SEC, Remi Bomfim, garante que o estudo já vem sendo feito pela secretaria, por meio de análise da planta do colégio. “Se ultrapassar a medida em alguma sala, pode haver uma flexibilidade: menos carteiras em salas menores e mais nas maiores”, argumenta Bomfim.

Mesmo se cada sala for ocupada por cerca de 30 alunos, a partir das medidas avaliadas, a professora Oliedi Oliveira Rosa acredita que vá ficar de fora do Colégio Severino Vieira, onde há 16 anos ensina matemática. Ela afirma ser o último nome da lista de excedentes, por não atender ao primeiro critério exigido pela SEC, o de ser licenciada. Aos 62 anos, faltando quatro para se aposentar, Oliedi é bacharel em ciências econômicas e concursada pelo Estado desde 1990.

“Cada ano que passa, vou ficando mais para trás”, diz.

A aluna Juliane Fonseca, de 17 anos, do Severino Vieira, reclamou da falta de professores na escola. “Na minha turma, estamos sem aula de artes, física e informática porque não tem quem ensine”, denuncia. Ela fez questão de acompanhar de perto a medição das salas. “Se botarem mais alunos do que o permitido, vamos continuar protestando, sim”, avisa.

Para a pedagoga Marlene Oliveira dos Santos, coordenadora do Fórum Baiano de Educação Infantil, 45 alunos numa mesma sala é um número elevado que pode prejudicar o processo de ensino e aprendizagem. “É um dos indicadores para avaliar a qualidade da educação, pois dificulta o acompanhamento personalizado”.

Ela lembra que em muitas salas os alunos ficam amontoados, o barulho é alto e a acústica é ruim.

O problema, no entanto, não é caso isolado da rede estadual.

A diretora do Sindicato dos Professores da Rede Particular de Ensino (Sinpro), Heloísa Monteiro, diz que alguns colégios privados chegam a colocar 60 alunos numa sala de terceiro ano do ensino médio. “Como não existe uma regulamentação, os donos de escola fazem o que querem”. Segundo ela, que ensina em salas com mais de 40 pessoas, a aglomeração é ruim para “o adolescente que necessita de atendimento não só específico como especial”.

 

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