Por Correio da Bahia – Chegaram números: o vírus circula nas escolas, em alta
Sinceramente, pra mim, fica muito difícil fingir naturalidade em um mundo onde pessoas acreditam que criança não pode tomar sereno porque fica doente, que não pode tomar sorvete se estiver resfriado, que faz mal andar descalça, mas que ir para a escola, durante uma pandemia, não tem problema nenhum. Talvez, a percepção distorcida da realidade seja minha, mas eis que surgem os boletins epidemiológicos da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e contra números não há argumentos. O fato é que, em 2021, a quantidade de crianças e adolescentes que pegaram covid-19, na Bahia, já é maior do que todo o ano passado. São 60.910 infectados até hoje (04/06), contra os 56.090 casos de 2020 inteirinho.
Contra números não há argumentos, mas há diferentes análises, inclusive leigas e profissionais. Há diversas abordagens possíveis e achismos de todo lado. Que “só agora crianças e adolescentes estão sendo testados” é um dos argumentos esperados e que pode fazer sentido. No entanto, também faz muito sentido pensar que essa turma está, sim, se contaminando nas aulas, mesmo “com todos os protocolos de segurança”, o que quer que isto possa significar. Entre as duas opiniões, um fato irrefutável: o vírus circula nas escolas, em alta.
(2 + 2 = 4)
(Causa e consequência.)
(O BÁSICO.)
(A gente aprendeu na escola e quase morreu de avisar.)
Observe bem a cronologia dos seguintes fatos, publicados em matéria de Daniel Aloísio, no Jornal Correio, dia 04/06: “no mês passado, as aulas presenciais foram retomadas, em algumas escolas de Salvador. Até o dia 25, o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs) recebeu quase 60 casos suspeitos de covid-19 em escolas da capital. No domingo passado, esse número já tinha saltado para 121 casos, uma média de 30 por semana. Foram 54 notificações em instituições de ensino, sendo 19 da rede privada e as demais, 35, na rede pública”.
O que esses números nos dizem? Primeiro que a identificação de infectados DENTRO das escolas prova o que qualquer portador de dois neurônios sabe: e ceninha de termômetro na portaria não serve como barreira para o vírus. Se servisse, essas pessoas não teriam ENTRADO nas escolas e os casos não seriam relacionados àqueles ambientes, concorda? Já o número CRESCENTE fala sobre um outro aspecto. Evidentemente, o teatro dos “protocolos de segurança” internos não tem eficácia para esse público. Resumindo, o novo coronavírus tá frequentando as aulas, na mais absoluta tranquilidade.
Agora é a vez do pensamento mágico que diz “crianças não contaminam outras pessoas nem adoecem com gravidade”. Tô rindo, mas é de nervoso. As famílias desses/as alunos/as foram testadas? Tá rodo mundo belezinha e “negativado”? Sobre a parte de que “crianças não adoecem com gravidade”, vamos a mais um trecho da matéria de Daniel, agora sobre UTIs pediátricas do estado: “dos leitos (para covid-19, na capital), 75% estão ocupados, sendo que as três unidades de saúde do interior já alcançaram 100% de lotação”.
A volta às aulas presenciais sem vacinação de crianças e adolescentes é só mais um ato de desprezo pela saúde integral dessa faixa etária. Faz parte do nosso costume de receber bebês em quartinhos decoradíssimos e depois enjoar do brinquedo, terceirizando tudo, até que se tornem adultos, quando o “amor” volta, em alguns casos. Crianças e adolescentes não têm sindicato, mas têm famílias que devem lutar pela imunização com as vacinas que já foram testadas e se mostram seguras e eficazes em menores de idade. Se educação é serviço essencial, as pessoas envolvidas são prioridade. E não só professores e professoras são pessoas, saiba.