Sim, a esquerda baiano teve excelente desempenho nas eleições de 2018. Além de ajudar a reeleger Rui Costa e garantir importante vitória aos senadores da coligação, fez muitos deputados federais e estaduais, ultrapassando, no geral, as metas estabelecidas pelas direções partidárias. Há, em que pese tantas notícias animadoras, coisas com as quais devemos nos preocupar aqui no estado, mais especificamente nos próximos dois anos. Uma me aflige com mais força. Tratarei dela mais adiante.
A eleição do capitão reformado representa, sem dúvida, o que há de pior na política. A previsão é de um governo desastroso, de pouco diálogo com as instituições, de pouca formulação e de discursos e práticas ultraconservadoras, na política, na economia, na educação, em tudo. O que dizer da possível extinção do Ministério do Trabalho, da provável aprovação do projeto “Escola sem Partido”, da redução da maior idade penal, do fim do décimo terceiro salário, da criminalização dos movimentos sociais e da indicação de alguém como o diplomata Ernesto Araújo para o Ministério das Relações Exteriores? O que esperar do fim da relação diplomática mais próxima com Cuba – que tantos benefícios trouxe ao nosso povo e aos moradores da ilha socialista -, da proibição da “apologia ao comunismo? Trevas!
O nordeste, que dessa vez quase salvou o Brasil, será duramente atingido pelas primeiras medidas do novo(?) governo. Os estados onde PT, PCdoB e PSB garantiram governadores (Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão) terão que conviver com a prometida retaliação do eleito, ainda que agora ele faça discursos mais republicanos, dando conta de que tratará todos os estados da federação do mesmo modo.
A Bahia, portanto, estará entre os alvos, ao menos a gestão do nosso governador estará entre os alvos. Afinal, além de ser administrada pelo PT, a Bahia deu – no segundo turno – 72,69% dos votos válidos do estado ao adversário do fascista eleito.
Rui Costa, pois, terá enormes desafios pela frente. Não bastasse essa possível retaliação, os números não têm ajudado. Aliás, a notícia de que a Bahia violou a Lei de Responsabilidade Fiscal e ultrapassou o limite de gastos com pessoal em 2017, conforme relatório do Tesouro Nacional, deixou os servidores públicos estaduais de orelhas em pé. Eis a preocupação a que me referi no início do texto. Como será a relação do governo com o servidor público? Os trabalhadores e as trabalhadoras suportarão um 2019 com reajuste zero novamente?
Nos últimos quatro anos, inúmeras foram as insatisfações do conjunto dos servidores públicos com o atual governo, especialmente nos quesitos relacionados à carreira, às condições de trabalho e à remuneração. O movimento sindical tinha muitos argumentos para construir grandes atos, greves e manifestações. Seria muito fácil aglutinar os trabalhadores e gerar todo tipo de mobilização e, por conseguinte, desgaste ao executivo estadual. O receio de retrocessos na política baiana e da volta do carlismo, em certa medida, acabaram por paralisar parte das estruturas sindicais dirigidas pelos classistas. Os que optaram acertadamente pela autonomia sindical e tensionaram, como fez a APLB-Sindicato, obtiveram algum êxito, com vitórias pontuais, ainda que ao largo das questões relacionadas ao salário.
A depender da atuação das bancadas da esquerda junto aos movimento sindical, parlamentares da direita nadarão de braçada entre os que, mesmo não desejando o retorno do conservadorismo antidemocrático, querem vozes altivas contra a política que precariza os serviços públicos e prejudica os trabalhadores. Permitiremos isso? Qual vai ser o posicionamento dos deputados estaduais dos partidos progressistas nas questões relacionadas aos servidores públicos? Continuarão dando votos de confiança ao governador, esperando dias melhores mais na frente, assumindo todo tipo de desgaste em suas bases e entre os dirigentes sindicais?
Vamos combinar: passou da hora dessa frente de esquerda fazer um debate mais aprofundado sobre isso.
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