O “DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA” OU “O RACISMO PRONTO DE CADA DIA”?
*Por Marcos Barreto
Como discutir sobre a Consciência Negra (ou como pedem as redes sociais: a Consciência Humana) se vivemos num país, onde existem candidatos à Presidência da República que emitem declarações racistas e carregadas de outros preconceitos e continuam sendo aplaudidos e apoiados?
Os movimentos que lutam para combater as desigualdades tem sofrido perseguição de todas as naturezas. As religiões de matriz africana são vitimadas por vandalismo, agressões e crimes contra a vida!
Coincidentemente, no Dia da Consciência Negra, pude participar de uma Audiência Pública sobre a Educação de Jovens e Adultos-EJA em Salvador, o que me trouxe algumas reflexões que já me acompanham a tempo.
Então, vamos pensar…
A EJA em Salvador, mas também em toda a Bahia e Nordeste, tem o perfil do cidadão que foi privado de estudar no “tempo certo”, por motivos sociais, econômicos, políticos ou de saúde. Também é o público que precisa trabalhar durante o dia, então só lhe resta o turno noturno para voltar à sala de aula em busca de qualificação para o mercado de trabalho ou para a sua atuação social e política no Brasil.
Ora, segundo o IBGE, de cada três desempregados no Brasil, dois são negros ou pardos! Mas, a coisa não para por aí… Entre os que trabalham disputando uma vaga com brancos, a política de remuneração também é racista!
–Um negro recebe em média 56% do que recebe um branco no Brasil.
— A questão é: como discutir a “Consciência Humana”, quando o mercado paga de modo racista e determina que o poder público produza uma educação excludente?
O Brasil, mas, sobretudo Salvador, precisa olhar os corredores dos hospitais públicos, as celas dos presídios, a sua educação pública, com recorte nas turmas de EJA e ser capaz de enxergar estes seres humanos! Eles são predominantemente os mesmos negros e pardos que estão situados nos 2/3 dos desempregados do país ou os que ganham desrespeitosamente o equivalente aos 56% dos salários dos brancos.
Só como cereja do bolo para nossa reflexão: após a reforma trabalhista com o trabalho intermitente pagando R$ 4,50, sem recolher FGTS ou previdência, cujo dia de trabalho pode pagar R$ 22,50, que nem pagaria um almoço individual, quanto mais os de uma família, e a reforma da previdência sem uma política de geração de empregos para a população acima dos 50 anos, que não vão conseguir se aposentar com o trabalho intermitente, qual o futuro dessa sociedade que ainda quer tirar o direito à educação e saúde por 20 anos?
O Brasil celebra hoje o Dia da Consciência Negra ou pratica ainda O Racismo Pronto de Cada Dia?
*Marcos Barreto – Pedagogo, Professor Municipal de Salvador e músico
Diretor da APLB-Sindicato