Professores de São Francisco do Conde publicam um Manifesto

MANIFESTO POR UMA EDUCAÇÃO COM QUALIDADE CIDADÃ  EM SÃO FRANCISCO DO CONDE

 

“Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.” (Thiago Melo)

 

Este Manifesto foi produzido tomando por referência a fala dos e educadores/as trabalhadores/as das unidades escolares que acreditam que é possível a reconstrução de uma gestão educacional municipal diferente, impulsionado por uma educação transformadora. Defendemos a necessidade de promover a Educação para uma cidadania local e global na escola, vislumbrando uma educação para a vida. Compreendemos desta forma uma educação que contribui para a formação de cidadãos e cidadãs responsáveis, comprometidos com a justiça e a sustentabilidade do municipal e mundial, que promove o respeito e a valorização da diversidade como fonte de enriquecimento humano, a defesa do meio ambiente e o consumo responsável, o respeito pelos direitos humanos individuais e coletivos, a igualdade de gênero, a valorização do diálogo como instrumento para a resolução pacífica dos conflitos, a participação, a co-responsabilidade e o compromisso pela construção de uma sociedade justa, equitativa e solidária.

 

Defendemos que a escola:

Constitui um ato social e político imprescindível,

Representa um espaço privilegiado para a formação de cidadãs e cidadãos críticos e participativos, capazes de impulsionar as transformações que queremos promover,

Tem um papel fundamental na procura de respostas aos desafios colocados na sociedade

Entendemos que a escola deve ter um papel central:

Na construção de um novo modelo de desenvolvimento que, questionando o papel dominante do mercado e do modelo neoliberal, aproveite as potencialidades da globalização em termos de solidariedade, participação e ação comum, de forma a acionar estratégias de sustentabilidade e de erradicação da pobreza.

Na conscientização dos cidadãos e das cidadãs sobre a necessidade de modificar os estilos de vida individuais e coletivo, de lutar para travar a degradação do ambiente, as alterações climáticas, a redução da biodiversidade e para reivindicar o direito universal à água, à alimentação e à saúde.

No crescimento e amadurecimento de uma sociedade civil vigilante, capaz de denunciar e de se mobilizar, que seja consciente do próprio poder e da forma como o pode utilizar para por fim as diferentes formas de exclusão social e para promover a totalidade dos direitos humanos para todos.

No desenvolvimento de formas mais eficazes da gestão democrática, tanto diretas e participativas como representativas, tanto nos contextos locais como globais. Reconheçam a pluralidade de pensamentos e ações existentes nas nossas sociedades e o diálogo multilateral entre a diversidade de espaços políticos que se têm vindo a afirmar em todo o mundo.

Conscientes de que os processos educativos são atravessados pela complexidade crescente dos processos sociais, econômicos e políticos do mundo em que vivemos, consideramos que a escola de hoje continua a ser organizada de acordo com um modelo de educação ineficaz que nem sempre dá resposta aos desafios da nossa contemporaneidade.

Neste manifesto sinalizamos que não concordamos ou apoiamos que os modelos de gestão que:

ENFATIZAM as relações hierárquicas rígidas autoritárias que não respeitem a liberdade de expressão e organização social e principalmente sindical

FAVORECEM:

A ocorrência dos diferentes tipos de nepotismo

A comercialização da educação que de direito de todos os cidadãos passa a ser vista pelos poderes políticos e econômicos como um serviço (pago) a prestar aos cidadãos.

A organização escolar disciplinar e isolada do contexto social e cultural.

PRIVILEGIAM a acumulação de saberes disciplinares fragmentados e parcializados.

NÃO VALORIZAM as dimensões sociais e relacionais da aprendizagem.

SUPERVALORIZAM a utilização dos livros escolares, delegando-lhes freqüentemente a responsabilidade do processo de ensino-aprendizagem.

SUBESTIMAM a importância das linguagens audiovisuais e informáticas.

SUBESTIMAM as entidades representativas dos trabalhadores e trabalhadoras em educação

IMPEDEM que os trabalhadores e trabalhadoras em educação de São Francisco do Conde tenham uma vida digna quando não respeita sua data base, não confere seus incentivos devidos, e não pagam as causas ganhas na justiça trabalhista.

CONSIDERAM como valorização dos trabalhadores/as em educação s o m e n t e a melhoria na estrutura física e aquisição de equipamentos para a rede de ensino.

Queremos também salientar que os educadores e as educadoras deste município estão a viver uma situação de crescente perda da auto-estima em virtude da campanha de desvalorização do papel social e moral, embora as responsabilidades e as exigências que lhes são impostas pela sociedade sejam cada vez maiores.

Afirmamos, com base em experiências promovidas por diferentes atores/as e instituições, que a Educação para uma Cidadania Planetária é uma resposta possível para promover uma educação transformadora e uma escola aberta ao mundo, visto que:

Valoriza a dimensão humanizadora e global da educação, através do fomento de valores de solidariedade, paz, reconhecimento do outro, justiça, igualdade e cuidados com o Planeta.

É uma proposta ética e política que concebe o ser humano numa perspectiva integral (pensar, sentir e agir), fundada na defesa da dignidade humana, na promoção dos direitos humanos, na interdependência entre o local e o global, na interculturalidade e na aposta na democracia e no diálogo.

Avança na direção da abordagem crítica e dialógica do processo de aprendizagem, que torna mais flexíveis os tempos e os espaços da escola, que promove locais de reflexão, que estabelece relações mais democráticas nos papéis e nas relações entre educadores/as e alunos/as.

Considera o conhecimento como construção coletiva, valorizando o saber de todos os envolvidos no ato educativo, num espaço que estimula a diversidade de formas de compreensão da realidade.

Conclamamos a comunidade sanfranciscana na sua totalidade para que, reconhecendo-se na nossa proposta, se junte a nós. Esperamos que os diferentes atores educativos se mobilizassem para questionar e modificar o atual sistema de ensino, considerando as peculiaridades dos seus próprios contextos.

Queremos uma escola forte, que:

EXIJA que o Estado assegure o direito à educação, rejeitando formas abertas ou encobertas de comercialização do processo educativo.

INCENTIVE uma gestão escolar democrática, participativa e aberta que implique o compromisso efetivo de todos os seus membros e da comunidade envolvente.

PROMOVA espaços de encontro e de participação dos diferentes atores educativos oferecendo possibilidades efetiva e concretas para o exercício pleno da cidadania global.

A criação de materiais didáticos coerentes com os valores e os princípios da Educação para uma Cidadania Global

Um maior enraizamento na vida local, ao mesmo tempo em que uma maior atenção e compreensão do nível global.

INTRODUZA a Educação para uma Cidadania Global, entendida como um processo de formação transversal e transdisciplinar, tanto nas disciplinas já existentes como em espaços interdisciplinares e de projeto, favorecendo a aprendizagem através da abordagem a temáticas socialmente relevantes.

IMPULSIONE metodologias e práticas ativa, interativa, críticas, cooperativas e participativas, que favoreçam a experimentação, tenham em conta a perspectiva sócioambiental e, sobretudo, que sejam consonantes com as finalidades da Educação para uma Cidadania Global.

CAPACITE os seus atores/as para a análise crítica e a utilização ativa dos meios de comunicação, longe da perspectiva de uma mera recepção passiva e potenciando o desenvolvimento de meios de comunicação alternativos.

APOSTE na formação, tanto inicial como contínua, trabalhadores/as em educação de todos os níveis de ensino, que os habilite a pensar e atuar tendo em conta as dimensões globais e transversais implícitas à Educação para uma Cidadania Global.

FOMENTE a construção de uma cidadania global e de processos de transformação social, em colaboração com famílias, organizações da sociedade civil e movimentos sociais, a partir de uma lógica de relações que valorize e reconheça as diferentes competências e respeite a especificidade e o papel de cada um, aproveitando da melhor forma os resultados das interações criativas e mobilizadoras.

IMPULSIONE a coerência entre os valores e as propostas, os objetivos e as estratégias, o discurso e a prática, o conteúdo e a forma.

CONSIDERE a educação como uma atividade criadora que, partindo da realidade quotidiana, prepara para a liberdade, para o desenvolvimento individual e para o respeito pelo bem comum, dando espaço a educadores e educadores comprometidos e críticos para trabalhar em rede com o intuito de promover e concretizar um movimento de transformação da educação, envolvendo toda a comunidade educativa a partir das suas próprias escolas.

Para finalizarmos não podemos deixar de sinalizar da necessidade de considerar a implementação da dimensão ambiental no currículo formal da rede municipal uma vez que esta dimensão contempla os anseios da contemporaneidade por uma sociedade menos consumista, menos centralizadora, menos competitiva, mais solidaria, mais participativa, mais transformadora.

A Educação Ambiental está presente na atenção dedicada ao aluno carente, aluno problema, aluno desistente. Ela está no compromisso que assumimos com o ser humano que está aprendendo. A Educação Ambiental não tem regras fixas, é evolutiva, está constantemente sendo reformada. Ela é conteúdo e aprendizado, é motivo e motivação, é parâmetro e norma. Vai além dos conteúdos pedagógicos, interage com o ser humano de forma que a troca seja uma retroalimentação positiva para ambos. Educadores e educadoras ambientais são pessoas apaixonadas pelo que fazem, e para que o respeito seja o primeiro sentimento motivador das ações é preciso que a escola mude suas regras para que se faça educação ambiental de uma forma menos “marqueteira” e mais humana.

 

Concluímos este manifesto PARAFRASEANDO o pensamento do grande educador Darcy Ribeiro:

 

“Fracassamos na maioria dos nossos pleitos:
Não  conseguimos o retorno da residência do professor.
Não conseguimos os enquadramentos dos avanços de carreira do servidor.
Não conseguimos ter escolas com infraestrutura adequada.
Não conseguimos o fim do contrato por tempo indeterminado.

Não conseguimos o reajuste da categoria na sua data base.
Mas com toda certeza não queremos estar no lugar dos gestores/as

que impediram estas conquistas.

APLB SINDICATO NÚCLEO SÃO FRANCISCO DO CONDE

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