ROMPENDO PARADIGMAS

ROMPENDO PARADIGMAS

 Luta por educação inclusiva deve ser cotidiana e perpassar os muros da escola

 A educação enquanto processo de sociabilização do individuo é exercida em diversos espaços do convívio social e é utilizada normalmente para adequar esses sujeitos ou grupos à sociedade. A socialização consiste em assimilar hábitos característicos do grupo social, através do processo pelo qual um indivíduo se torna membro funcional de uma comunidade, assimilando a cultura que lhe é própria, dita como “natural”.

Gradativamente, o individuo torna-se parte de um grupo e vai adquirindo hábitos e valores, forma sua personalidade. Ao socializar-se, o individuo passa a ser admitido em determinada comunidade/sociedade, apropriando-se de comportamentos e atitudes, modelando-os por valores, crenças, normas dessa mesma cultura em que ele se insere. Podemos dizer, portanto, que a socialização é transmissora da cultura e a transmissão se dá através da educação que é passada de um individuo para outro, de uma geração para outra. Assim o indivíduo social está sujeito à educação formal, com objetivos determinados pelo Estado e expressos na lei, aplicada de forma pública ou privada – e também àquela informal que pode ocorrer das mais variadas formas.

 O papel da mulher

A mulher representa 52% da população e, ainda assim, não tem visibilidade. É submetida à condição de inferioridade pelo fato de ter nascido fêmea. Inúmeras têm sido as explicações para tentar justificar e reproduzir essa condição de que a mulher é complementar ao homem em todas suas atividades, portanto inferior. O advento do capitalismo possibilitou à mulher uma consciência coletiva da situação de inferioridade social que lhe era imposta. É no capitalismo que o trabalho produtivo desloca-se das casas para os espaços públicos, da vivência da unidade familiar para a vivência coletiva, propiciando uma nova consciência para a mulher.

É na escola que a educação formal deveria se concretizar como um importante agente formador e transformador de mentes e atitudes. Mas é nessa escola que encontramos materializada a visão sexista de mundo, seja nas atividades, nos conteúdos dos materiais didáticos de caráter sexistas (livros, filmes, etc.), ou na própria postura do profissional da educação que vem permeada por uma formação advinda de uma sociedade patriarcal.

Nesse sentido, a escola torna-se reprodutora da ideologia da classe dominante, por meio da qual são mantidas as estruturas hierárquicas conservadoras, reforçando de forma subliminar ou ostensiva a ideia da inferioridade da mulher. O livro didático desempenha um importante papel nessa cadeia de produção e reprodução de concepções discriminatórias em relação à mulher. É, em resumo, uma produção da indústria cultural, destinada às grandes massas de estudantes. Não por acaso, a imagem da mulher no livro escolar parece congelada no tempo, deixando de refletir inclusive as mudanças surgidas na condição feminina.

 A mulher no contexto da intelectualidade

 Durante muitos séculos, esse saber foi negado às mulheres. Em “A mulher na sociedade de classes: mito e realidade”, Heleieth Saffioti afirma ao analisar a instrução feminina na Colônia e no Império: “Na civilização portuguesa não havia lugar para a instrução feminina, considerada verdadeira heresia social.” E completa: “O ideal de educação feminina circunscrevia-se exclusivamente às prendas domésticas”.

Ainda na metade do século 20 se manteve a diferença de acesso à educação entre homens e mulheres. É também nessa época que as mulheres conseguem vários direitos – fruto da luta dos trabalhadores e do movimento feminista. Hoje, segundo dados do IBGE, o crescimento da escolaridade feminina tem se consolidado nos últimos anos e se manifestado nos diversos setores da atividade econômica. No entanto, em 2011 o rendimento das mulheres continuou inferior ao dos homens.

Educação e Sexualidade

Ainda convivemos com a ideia equivocada de que as crianças e adolescentes são “puras”, “inocentes” e assexuadas. O corpo materializa nossa identidade e tudo nele se manifesta de alguma forma pulsante, com linguagem própria. Não apenas o corpo que aprende conteúdos, atitudes e habilidades das áreas de conhecimento, mas um corpo que interage com outros, que manifesta a sexualidade. Um corpo que sente prazer e dor, que expressa alegria e tristeza, que experimenta afeto, ódio, carinho e amor.

A escola tem um papel fundamental no sentido de orientar crianças e adolescentes quanto à sexualidade, contribuindo para que eles possam exercê-la com prazer e responsabilidade, respeitando os sentimentos, valores e emoções de todos os envolvidos. Contribuir para uma educação não-sexista é tratar também deste tema.

Em pleno século 21, apesar dos avanços, ainda temos muitas dificuldades para o acesso e permanência das crianças e das jovens nas escolas. A ausência de política definida para que haja mais escolas, currículos escolares bem estruturados, que combatam os estereótipos, com profissionais bem formados e remunerados dignamente para exercer suas profissões, mantém-se a barreira do acesso e permanência, principalmente das mulheres à educação.

*Por Marilene Betros

Vice-coordenadora da APLB-Sindicato

Texto e foto extraído da Revista Mulher D’Classe

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