NIVALDINO FÉLIX: QUEM FOI JOSÉ DO PATROCÍNIO?

NIVALDINO FÉLIX: QUEM FOI JOSÉ DO PATROCÍNIO?

Há uma resistência muito grande  do movimento negro para falar sobre  a figura  José do Patrocínio devido à  posições dúbias  tomadas durante a sua trajetória  no campo político na época do regime  escravista, mas ele  foi um grande abolicionista mesmo com todos equívocos. Na morte de Duque de Caxias, ele fez um apaixonado discurso fazendo apologia ao que chamou de patrono do Exército Brasileiro.

Jose do Patrocínio nasceu no interior do Rio de Janeiro, na cidade de São Salvador de Campos de Goitacazes, filho do Vigário,  João Carlos Monteiro, nascido  fazenda do Imbé interior do Rio de Janeiro, dono de grande propriedade terra, e deputado provincial.  Nesse período o cônego já tinha 54 anos e a mãe de Patrocínio era uma negra que tinha treze anos, Justina Maria do Espírito Santo. É importante ressaltar que esta relação entre senhores e escrava era normal. Patrocínio aos 9 anos já  não servia  como filho de escrava e tratou mal um velho, ao demorar em abrir a porteira para ele passar, e por isso foi repreendido pelo pai. Segundo falam foi a partir dessa época  que passou a lutar pela a liberdade dos escravos.

José do Patrocínio vai para capital e torna-se farmacêutico, poeta e jornalista, frisando que nesse período ele trabalhou muito, para conseguir realizar seu sonho que era  ver a liberdade de todos os negros e negras. Suas divergências com o cônego eram constantes, uma vez que ele maltratava os escravos com muita crueldade. Sentindo que estava criando um futuro  inimigo, o pai  o manda para a capital onde trabalhou como  caixeiro,  daí começa nascer o “libertador dos escravos”, como era conhecido.

Em 1870, as ideias republicanas e abolicionistas  fervilham na corte, com  o lançamento do Manifesto Republicano, redigido por Quintino Bocaiúva e Salvador Mendonça. Em 1871,  Patrocino já escrevia para o jornal  A República e lança um livro de  poemas dedicado a Tiradentes, já considerado herói nacional. Depois se afasta do Jornal, em virtude do jornal se recusar publicar o projeto da Lei do Ventre Livre, uma vez que projeto era de autoria do gabinete do governo monarca.

Após isso, trabalhou em diversos jornais progressistas, como: a Gazeta de Notícias, O Mosquito, A Reforma, Gazeta Métrica, Os Retirantes. No ano de 1876, publica outro livro de poesias  “Padre,” onde criticava a igreja, a religião e seu pai. Vejam um trecho de um dos poemas:

“ é preciso lançar por terra este espantalho

  Ele se diz intérprete divino

 Sob a máscara da moral austera

Esconde a negra vocação de abutre

E os instintos sangrentos  da pantera “

Já 1878, Patrocínio  casa-se  com a filha do grande amigo, Capitão Emilino Rosa, chamada por ele de Bibi, sua ex aluna, quando  ele  tinha 28 anos e ela 17, foi um casamento tumultuado, já que não era do gosto do  pai da sua esposa.

No dia dez de maio de 1883, é  criada a  Confederação Abolicionista do país, isto é, todos que lutavam pela abolição da escravatura se uniram.  Dela participavam André Rebouças e José do Patrocínio, eles elaboraram o documento e entregaram ao  Parlamento Imperial, pelo fim da escravatura. Em 1884, Patrocínio embarca para Portugal, com o objetivo de obter novos documentos necessários para a luta, depois vai a Paris e é apresentado a Victor  Hugo, o grande romancista francês que faz um discurso brilhante, homenageando a figura de  José do Patrocínio: “O jornalista brasileiro que fez de sua pena “o gládio da civilização, para vingá-la pela conquista do direito de milhares de desgraçados”. Mais na frente exalta: “A violência é um direito quando exercida contra a violência do poder”.

 Em Paris, Patrocínio recebe a noticia, que a escravidão tinha acabado no Ceará. Eufórico, ele diz: “A aurora da liberdade está chegando”, isto foi no dia 25 de março de 1884. Nesse momento, Rui Barbosa que era monarquista extremado aderiu a abolição. Patrocínio recebe outra noticia, o fim da escravidão no Amazonas.

É importante ressaltar a revolta que houve no Rio de Janeiro, chamada “Imposto do Vintém” de autoria do economista da época Afonso Celso. O povo revoltado promove um quebra-quebra. Sete mil pessoas compareceram ao ato, José do patrocínio discursa:

 “nessa hora que troa o canhão militar  saudando a realeza, troa também o canhão popular, para defender o direito do povo!”             

 Devido a sua ambiguidade, equívoco ideológico, Patrocínio torna-se monarquista e  a favor do fim escravidão e é  contra a República.  Nesse período torna-se  amiguíssimo da Princesa Isabel, tanto é  verdade, que  quando a  mesma assina a lei Áurea,  ele exclama: Tu és a Redentora!

No dia 11 de fevereiro de 1906, Jose do Patrocínio morre  na miséria. O  enterro contou com a presença do mundo político da cidade do Rio de Janeiro, nesse mesmo período,  em Paris, Santos Dumont voa em com o seu 14 Bis.

 Nivaldino Felix

 Escritor e Pesquisador

 Diretor de Imprensa da APLB

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