Enem: Bahia tem cinco das 20 piores escolas do País

GLAUCO WANDERLEY E REDAÇÃO
SUCURSAL FEIRA DE SANTANA

bahia@grupoatarde.com.br

A Bahia tem cinco escolas entre as 20 piores do País e nove entre as 50 piores. Os resultados são do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), cujo levantamento por escola foi concluído pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação.

O Estado tem o maior número de escolas nas 50 posições mais baixas do Enem no Brasil. A pior situação se encontra no município de Tucano, no semiárido, a 277 km de Salvador. O Colégio Estadual Heráclides Martins de Andrade ficou com média 30,13, na educação de jovens e adultos.

São pessoas com idade entre 18 e 45 anos, que estudam à noite e durante o dia trabalham. A escola obteve a 12ª pior nota em todo o Brasil.

O fato de os estudantes do Heráclides trabalharem e faltarem frequentemente por estarem cansados foi apontado pelo vicediretor Ademir Oliveira como uma causa determinante para o mau desempenho. Mas ele também critica a falta de investimento dos sucessivos governos, como um fator que contribui para os maus resultados. A escola não possui biblioteca. Por iniciativa dos próprios trabalhadores da educação, está sendo montada uma, que Ademir define como pequena.

Faltam também outros itens básicos, como carteiras para os estudantes e mesas para os professores.

Estes, por sua vez, carregam suas próprias deficiências.

“Nem todos os professores têm uma formação adequada”, reconhece o vice-diretor. Para agravar o problema, ele informa que quem é formado em matemática quebra-galho dando aula de química.

“É difícil encontrar professores em algumas disciplinas e estes têm preferência por ensinar em escola particular”, lamenta Ademir. A Heráclides tem três turmas no ensino médio, totalizando 135 alunos. Ao todo a escola possui 600 alunos.

As outras campeãs de desempenho ruim na Bahia são dos municípios de Casa Nova, Juazeiro e Ubaitaba, além de uma de Salvador (vide info). A boa notícia vem de Feira de Santana, onde o Colégio Helyos, da rede particular de ensino, obteve a quinta melhor média geral, com 76, 34 pontos. Contraponto em Feira, a Escola Helena Assis Suzarte, localizada no Conjunto Feira X, obteve média geral de 34,96 e está entre as piores do país.

SEM EXATIDÃO – Os resultados do Enem são levados em conta pela Secretaria Estadual de Educação para entender a situação do ensino na Bahia, garante a coordenadora de avaliação, Diana Picolo. No entanto, devido ao fato de a participação ser voluntária, ela acredita que o resultado do Enem pode não retratar com exatidão a realidade.

A secretaria também vem investindo em um sistema próprio de avaliação, adotando os mesmos princípios do Enem. Alunos do 1º ano do ensino médio fizeram a prova no ano passado e farão de novo em 2009. Em 2010, quando completam o ciclo, serão novamente avaliados.

De acordo com Diana, indicadores do próprio MEC, como o Ideb, que avalia a educação básica, mostram que a Bahia vem melhorando. No entanto, ela argumenta que a percepção clara destas melhorias para a sociedade precisa de um tempo maior para acontecer.

 

Profissionais da área avaliam a má qualidade do ensino

 

A diretora da Faculdade de Educação da Ufba, Celi Taffarel, pondera sobre as questões presentes por trás da avaliação do Enem e que levaram aos resultados ruins no Estado da Bahia.

“Currículo da escola, projeto político pedagógico, financiamento da educação, preparo dos professores, sociedade econômica e cultural compõem uma somatória de variáveis que historicamente determinam a má qualidade de ensino e aprendizagem”.

Para Rui Oliveira, diretor da APLB (Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia), esse era um resultado esperado, já que faltam coordenadores pedagógicos e não há professores de nível superior na rede estadual. Ele acredita que “o governo não enxerga educação como desenvolvimento social e sim como custo”. Em relação aos professores, Rui diz que não há investimentos na formação e nem valorização, e os professores não têm carreira.

Jane Moreira, diretora educacional da APLB, foi professora em escolas públicas e defende a classe. “Sempre colocam a culpa no professor, mas esquecem que dentro da sala de aula fazemos tudo com dificuldade”.

Para que aconteça uma melhoria da educação, Celi Taffarel defende a necessidade de se realizar uma medida de conjunto no Estado. “O piso salarial é uma questão a ser enfrentada”.

Rui conta que o sindicato já entrou com diversas ações no Ministério Público, a fim de melhorar o que está ao seu alcance.

Ele acha que agora falta a sociedade se manifestar, exigindo melhorias na educação. Por enquanto, crê que “a escola baiana é uma escola do faz-de-conta”.

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Educação da Bahia informou que só irá comentar o desempenho das escolas baianas no Enem após ser oficialmente comunicada pelo Ministério da Educação. Até ontem, segundo a assessoria de comunicação da SEC, isso não havia ocorrido.

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