Dia da Consciência Negra – artigos e poemas

Dia da Consciência Negra – artigos e poemas

Quilombolas
A Educação dos Negros e Negras no Brasil
Por: Gercy Rosa
Apesar de todas as lutas do Movimento Negro e de outros setores da sociedade pelo acesso à Educação no Brasil, os jovens negros e negras ainda são minoria nas faculdades e universidades em todos os estados da Federação.
Não foram poucas as lutas e não estamos minimizando as conquistas, mas é de fundamental importância continuar na luta, organizados, imbuídos de ousadia para exigir dos governantes, deputados e vereadores. Afinal, votamos e elegemos empunhando a bandeira de uma educação pública, laica e de qualidade para todos e todas.
Estejamos atentos para se fazer cumprir as leis que garantem aos  jovens negros e negras o acesso e a permanência nas escolas, com a inclusão na educação em todos os níveis desde a pré-escola até a universidade.
A Lei 10.639, que esta completando 10 anos e ate os dias atuais não foi implementada na maioria dos estados brasileiros, ficou à  mercê e à disposição dos professores  que  se    identifiquem  com o assunto.
A transversalidade no currículo escolar precisa estar na prática diária das nossas escolas com materiais adequados e professores comprometidos. Assim, teremos alunos participativos, valorizados e inseridos na história como cidadãos e cidadãs.
Na construção desta nação e não  amarrado no tronco – sendo chicoteado como aparece na maioria dos   livros didáticos que são distribuídos nas escolas  publicas para alunos de maioria negra.
Por que os alunos e alunas das escolas públicas não têm interesse em estudar e  permanecer na escola?
Gercy Rosa – Diretora do Departamento Social da APLB-Sindicato
Negros nas prisões
Educação e população carcerária
Por: Olívia Mendes
Novembro de 2013. Um convite à reflexão. Presença de Zumbi dos Palmares, e a marca de 10 (dez) anos da Lei 10.639, que introduz obrigatoriedade de ensino da cultura da África e dos africanos nas escolas.
A marcante participação desse povo e seus descendentes na construção do Brasil desnuda o flagrante desrespeito aos direitos humanos. Foram 350 anos de escravidão e nada mais hediondo do que o RACISMO perpetrado pelo europeu opressor e presente hoje às vezes sutil e tantas vezes acintoso. A falta de oportunidade a desigualdade é o retrato dessa violência.
Uma das formas de perceber a violência do racismo no Brasil é analisar a população carcerária. A impressão é que pessoas brancas e ricas não cometem crimes. No Brasil, segundo dados do Ministério da Justiça de 1008 a 2012, houve um crescimento de 21% na população carcerária onde os pardos (43%) são maioria, os que declaram-se negros 17%, perfazendo um total de 60%, contra 35% de brancos.
Quanto a escolaridade 50,5% tem ensino fundamental incompleto, 14% alfabetizados, 6,1% analfabetos, contra 0,9% que chegaram à Universidade mas não concluíram e apenas 0,04% concluíram o superior, enquanto 0,03% chegaram a um nível acima do superior.
Nas prisões brasileiras os jovens de 18 a 24 anos são maioria cerca de 30% e de 25 a 29 anos 25%, entre 30 e 34 anos 19%. O perfil do preso brasileiro do preso brasileiro vem sendo mantido ao longo dos anos, o que demonstra falta de políticas públicas para inclusão do jovem na sociedade.
Alguns estudos dão conta de que um presidio federal gasta com um detento (R$ 40 mil) enquanto com um aluno de nível superior (R$ 15 mil) em terço do valor gasto com um detento. Em nível estadual a diferença é bem maior: são R$ 21 mil (ano) com cada preso e com um aluno de ensino médio é gasto R$ 2,3 mil, o que evidência o baixo investimento na educação, daí a necessidade do cálculo custo aluno qualidade. Registra-se que o gasto como sistema prisional está longe de tornar o sistema eficiente e sem dúvida um investimento maior em educação diminuiria a despesa com presídios. É sabido que a perspectiva de sucesso afasta o ser humano da violência e do crime.
A Bahia, em que a concentração do afrodescendentes é das mais acentuadas, os números estão bem acima da média nacional. As prisões provocam a mesma indignação retratada por Castro Alves em Navios Negreiros, apesar da existência de uma Escola esta não é suficientemente atrativa, menos de 20% da população carcerária frequenta, as atividades laborais não alcançam 10% dos presos, apesar da Lei de Execução Penal, prever a ressocialização tal não ocorre como não são dados as condições para facilitar ao preso o convívio social, ele volta a reincidir, 72% vivem em total ociosidade.
Na esteira da violência assistimos também a um grande extermínio da população negra, com a estatística da Secretária de Segurança Pública apontando semanalmente um contingente substancial de jovens negros vítimas de homicídios.
O racismo é uma violência gerada pela desigualdade, portanto a luta precisa ser continua contra o capitalismo gerador de todo tipo de opressão e esse combate deve ser no dia a dia e enquanto educadores e educadoras precisamos perseguir uma sociedade igualitária sem oprimido e opressor, explorados e explorado buscando suprimir a desigualdade social transformando da forma radical essa sociedade e “que os negros adquiram a consciência revolucionária articulada em uma perspectiva de raça, classe e consciência de classe”, como defendido pelo escritor Nivaldino Félix em Flexão e Reflexão no Contexto Racial.
Olívia Mendes, Diretora de Educação da APLB-Sindicato e professora regente na Estadual da Penitenciária Lemos de Brito.

 

Eu sou negro
EU SOU
Eu sou o que sou
em minha própria certeza
de não ter tido a incerteza
de considerar-me  como moreno,
cabo-verde ou clarinho.
Eu sou o que sou
por causa da memória
de ter vivido a história
das lutas quilombolas
deturpadas pela mão branca.
Eu sou o que sou
porque liberto estou
com minha alma pura
de todos os preconceitos
humanos e inferiorizados.
Eu sou o que sou
porque liberto estou
de toda leviandade que corrompe
o pensamento humano.
Eu sou o que sou
porque sou da raiz afro
dos frutos mestiço
da árvore humana.
Eu sou o que sou
porque não sou medo.
Marcelo Araújo – Diretor do Departamento Social da APLB-Sindicato
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NEGROS PALMARES
Ter alma negra, ô meu irmão
É ter malícia, muito molejo
E a capoeira no coração.
Amor à arte
Arte é gingar
E o berimbau, saber tocar.
Fiz reverência ao mestre Nagô
Fiz reverência ao mestre Zumbi
Eu tenho o toque da capoeira
Gritando alto no coração.
Tombar aqui, tombar acolá
Levanta, negro! Não caia não!
Em Roda- Grande se batizar
São Bento Grande, te ajudar.
Capoeirista!
 Não sabe não?
É ter o toque no coração.
Capoeiragem, não é vadiagem
É reviver sua negritude
Reviver “o Rei dos Palmares”
Ter “malandragem” sim! Pra se defender
Se for possível, não atacar
“Deixa pra lá”
Se não tem jeito…
 Tem que atacar
Dá “uma benção” pra não esquecer
Que foi uma defesa de escravo humilhado
Quando feitor se dizia “endeusado”!
Reviver negros palmares
É reviver a Redenção
Saber “o Toque”… saber jogar
Treinar o “AÚ” pra se libertar
“Pulo-do-gato” … ou “bananeira”
“S Dobrado”… Meu Santo Amaro!
“Pulo Mortal”! Iê, não caia não!
“Ponte-pra-frente”… “Ponte-pra-trás”
“Ponte-voltando” Isso é demais!
Reviver a escravidão é reviver a redenção
Quem me ensinou foi o Mestre ZUMBI
Eu tenho o toque no coração!
EU TENHO O TOQUE NO CORAÇÃO!
Autoria: Ceiça Moraes Salvador (Ba), em 1996.
Homenagem ao Dia 20 de Novembro – DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA – dia em que se comemora a morte de ZUMBI DOS PALMARES, personagem real da nossa história, que lutou até a morte, em favor da Liberdade do povo africano e afro-descendentes, injustiçados por conta de um sistema político-social injusto, ora existente no Brasil.
Esta homenagem se estende aos grupos afros do país e a todos os Zumbis, que lutam em prol de causas nobres para equalizar as oportunidades e vivem sofrendo, lutando, continuamente mobilizados na luta pelas mudanças com o propósito firme de tornar a nossa sociedade menos excludente e mais justa.
 (Ceiça Moraes, Salvador, 2013).
Movimento Negro
ONDE ESTÃO AS ENTIDADES DO MOVIMENTO NEGRO?
Por: Nivaldino Felix
A perseguição dos militares aos setores democráticos atingiu também as organizações do movimento negro na época da ditadura. As entidades foram para a clandestinidade e muitas desapareceram do cenário da luta contra o racismo.
No fim dos anos 70, aparecem entidades como MNU, tendo como proposta organizar as lutas contra o racismo tendo como elemento principal a defesa da cultura negra em busca da afirmação do homem e da mulher de descendência africana.
Em 1988, surge a União de Negros pela Igualdade, com uma proposta muito mais ofensiva afirmando que a luta dos negros no Brasil era de raça e consciência de classe, já que os negros deveriam elevar a sua consciência crítica e política para dar início à sua libertação e não bastava só a consciência de raça, outras entidades do movimento negro na época  jogaram  um papel fundamental na luta contra o racismo e a discriminação.
Com a chegada da chamada esquerda brasileira ao poder as entidades que permaneceram se transformaram em organização não governamental, e suas lideranças foram para os governos e passaram a ter outros interesses que não a defesa dos negros, que no cotidiano estão à mercê da  violência , desemprego, falta de habitação e outros males sociais nos bairro periféricos.
Hoje, este movimento vem se dando sem ação prática e sem ação política através dos negros que estão dentro da academia, com palestras, seminários e atividades do mesmo gênero,  é preciso, multiplicar o número de novas lideranças, elevando a  consciência crítica para que possam  ir nas periferias organizar os negros dentro de um ambiente político da luta de raça e classe.
As entidades do movimento negro que evoluíram foram aquelas que estão no campo  cultural e que cotidianamente levam a consciência de raça  para os negros através de suas canções, mesmo dentro de um ambiente mercadológico.
Mas estas entidades  jogam um papel de grande importância na elevação da autoestima na comunidade negra, o orgulho de ser negro ultrapassa qualquer limite a partir do momento em que o homem negro assume a sua negritude, a mulher negra assume a sua negritude e isso se deve às entidades que lidam com a parte cultural.
Nivaldino Felix
Escritor
Diretor de Imprensa da APLB-Sindicato
Coordenador do DEFE-BA

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Cartaz externo: Jachson José
 

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