“O NEGRO E A QUESTÃO DA EDUCAÇÃO”

“O NEGRO E A QUESTÃO DA EDUCAÇÃO”

20 DE NOVEMBRO – DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

               “O NEGRO E A QUESTÃO DA EDUCAÇÃO”
               

Por Nivaldino Félix*

O negro e a questão da educação é um tema bastante sugestivo no Brasil. É preciso entender que a exclusão do povo negro da educação vem desde os primórdios da chegada dos portugueses no Brasil.  

O racismo é tão cruel que sempre negou a possibilidade aos escravos de ter acesso ao conhecimento. Eles consideravam  os negros africanos humanos inferiores que não tinham inteligência necessária para assimilar os que os brancos diziam ou ensinavam.  Só se cogitou a possibilidade do negro ter acesso à escola a partir do século XVII. Os padres Jesuítas em algumas de suas aulas régias passaram a ensinar  negros e índios, mas o tratamento era tremendamente desigual. A constituição Brasileira de 1821, dizia  o seguinte:  TÍTULO 8º – Das disposição Gerais e garantias dos direitos Civis e políticos dos cidadãos. XXXII. A instrução primária  e gratuita a todos os cidadãos onde serão ensinado os elementos da Ciências, Belas Artes e Letras.

        
Só que os negros não eram considerados cidadãos. Portanto, não tinham direito de ter acesso à educação, daí o povo negro continuava a ser excluído da sociedade. A partir dos anos 30, com o processo de industrialização, surgiu uma necessidade objetiva para que os negros tivessem acesso à escola pública,  uma vez que estava chegando a nova tecnologia, não podia deixar 90% da população sem saber ler e nem escrever  sendo que  não podia passar disso para que não se tornasse perigoso para o sistema. No sistema educacional se fazia o primário e, ao concluir,  ainda tinha um exame de admissão ao ginásio, que era mais cruel do que um exame de vestibular.  Daí muitos negros da época só tinham o curso primário. Muitos de nós passamos por este teste e, além disso, os professores eram autorizados pelos pais para dar diversos castigos ao aluno quando erravam  as lições ou não sabiam fazer o dever. Esta postura era uma herança da escravidão, baseada no conceito de que os negros só aprendiam debaixo do chicote. Importante lembrar que a escola pública na época exercia um ensino de qualidade, mas os ricos e a  classe média  era que tinham acesso à escola pública. Temos exemplo aqui na Bahia como o Colégio Central que formou os melhores alunos e diversas cabeças pensantes como: Caetano Veloso, um dos fundadores do Tropicalismo,   Glauber Rocha, um grande cineasta, Antônio Carlos Magalhães, senador e governador, professor Rui Oliveira , Mestre em Química Analítica,  Lídice da Mata,  Deputada Estadual, Carlos Marighela, grande líder revolucionário, entre outros.          

Hoje temos uma escola pública abandonada pelos poderes públicos, professores sem motivação para ensinar, muita das vezes não por  que estão com salários aviltados, mas porque não existe uma política de  valorização dos profissionais em educação. Estamos observando que os alunos estão fugindo da escola, existe uma progressiva evasão escolar, que significa que a juventude negra, principalmente, está entregue à sua própria sorte, pendendo para o não recomendado que é  a marginalização e o analfabetismo. Na Bahia, nós temos mais de um milhão de alunos que finge que está estudando e muitos professores fingindo que estão ensinando, não é culpa dos professores,  mas pela a ausência de alunos.     

Em 2009, a luta do movimento da causa negra conseguiu uma grande conquista que foi a Lei 10639, que exige que se inclua no currículo escolar a história do negro no Brasil e no  continente africano, porém poucos governos, tanto estaduais, como municipais, deram  importância,  à Lei 10639/09, que não é  disciplina tanto que pode ser incluída em diversas matérias, como História, Geografia, Matemática, Português. Um dos grandes problemas é que poucos  professores dominam o assunto, encontra-se também resistência por parte de professores evangélicos, que se recusam ensinar cultura africana e seus  aspectos  religiosos. Disciplina essa que possibilita os negros  conhecer a história dos  seus ancestrais na África e no Brasil, e na  diáspora africana.     

Por outro lado, temos os  governos estaduais e municipais fechando escolas públicas.  Rui Costa tentando privatizar os estabelecimentos de ensino entregando às organizações sociais às administrações das escolas. Tudo isso é preocupante para nós que defendemos uma educação publica de qualidade. São 388, anos de escravidão, por que para nós, negros, a escravidão não acabou , ela continua com sua nova face , mas continua brutal e violenta contra nós negros e negras  sob todos os aspectos, precisa  brotar nesse novo contexto outros Zumbis, para juntos, conquistarmos  nossa liberdade.

Viva Zumbi , Rei dos Palmares !!!

 

Nivaldino Felix é poeta, escritor e diretor de Imprensa da APLB-Sindicato*

 

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