ORGULHO DE UMA CATEGORIA – A APLB E OS PROFESSORES DA REDE MUNICIPAL DE SALVADOR

ORGULHO DE UMA CATEGORIA – A APLB E OS PROFESSORES DA REDE MUNICIPAL DE SALVADOR

Por Elza Melo*

Na década de 80, a APLB – como Associação dos Professores Licenciados – passou a representar as professoras da rede municipal, que eram denominadas “professoras primárias”. Lideranças foram forjadas nessa época, em função da necessidade premente de enfrentar o então prefeito, que pretendia usurpar os direitos dos professores, retirando gratificações. A vitória foi consagrada, tanto na manutenção dos nossos direitos, como na organização em torno da APLB, entidade que passou a representar essa aguerrida categoria.

Os anos se passaram e no “currículo sindical” dos professores municipais foram registradas lutas, conquistas, avanços, organização, mas, fundamentalmente, foi se consolidando o envolvimento na luta política mais geral, de âmbito federal e estadual, contra as forças retrógradas que iam na contramão dos direitos do povo e dos trabalhadores.

Na década de 90, por força da nova Constituição, a APLB deixou de ser associação e transformou-se em sindicato – APLB-SINDICATO – o que permitiu agregar os demais profissionais da educação, companheiros que junto com os professores fazem a Educação no nosso município.

A luta da categoria continuou, com o registro de muitos avanços, apesar de todos os percalços enfrentados, fruto da falta de políticas públicas para a Educação nas administrações municipais, situação agravada na atual administração nas suas duas gestões. Aliás, uma constatação visível em todas as áreas. Acreditamos que uma administração municipal precisa ter uma visão macro dos problemas para atender aos reclames da cidade e do povo de Salvador.

Entendendo o bairrismo como uma forma positiva de ter orgulho da nossa terra, pela sua beleza natural, pela sua história como a primeira capital do Brasil, pela sua arquitetura, pela sua importância turística no cenário nacional e mundial, é inegável que essa cidade precisa ser mais cuidada por aqueles que se elegeram para cumprir essa tarefa.

Vale a pena nos inspirarmos no que diz Leonardo Boff sobre o significado de “cuidar”: “Cuidar é mais que um ato, é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro.”

Que tipo de atitude constatamos nessa administração? Salvador hoje é uma cidade descuidada que deixa os soteropolitanos tristes e indignados: convivemos com buracos, lixo, um sistema viário extremamente deficitário, o atendimento nos postos de saúde é deficiente, percebe-se, também, que o trabalho informal aumenta a cada dia.

Especificamente na área da Educação as (os) professores só têm a lamentar: as escolas, em um número bastante elevado, estão com as estruturas físicas precárias; foi adotada a política da terceirização e de estagiários, já que os coordenadores pedagógicos, merendeiras e professores concursados não são nomeados – saliente-se aqui que o concurso para preenchimento desses quadros faz aniversário de um ano da sua realização; a merenda escolar chega aos estudantes, incompleta e sem regularidade; a segurança nas escolas é ineficaz, a ponto de ocorrerem assaltos, com professores sendo rendidos e seus pertences, como bolsa, carro, sendo levados.

O trabalho, que deveria ser fonte de realização e de prazer, passa a ser fonte de sofrimento, de apreensão, de estresse, e ser professor (a) transforma-se em ser alvo da marginalidade, exposto ao perigo pela ausência de “ocupação, de preocupação, de responsabilização e de envolvimento” dessa administração.

Mas mesmo com todos esses problemas vividos pelos professores, temos muito a comemorar. Primeiro, pelo espírito de luta e tenacidade que se traduz nas grandes conquistas já obtidas, a exemplo de eleição direta para diretores e vice-diretores de escola pela comunidade escolar desde 1986; criação do cargo de coordenador pedagógico (1994); manutenção das gratificações ameaçadas de serem retiradas em diferentes administrações; ampliação dessas gratificações para os que atuavam no turno noturno (AC); ajuste na gratificação dos coordenadores pedagógicos (2010); garantia de remuneração sem nenhum prejuízo para os professores que são readaptados em função da limitação nas atividades laborais; reajustes salariais substanciais, chegando a ser considerados como um dos maiores obtidos por qualquer categoria.

Segundo, porque essa combativa categoria continua na luta pela destinação de 10% dos recursos do PIB para a Educação, por um Plano Único de Carreira para os profissionais da Educação, por exigir do Executivo Municipal a adoção imediata de políticas públicas, no sentido de solucionar os graves problemas que persistem há anos na educação municipal, com ênfase no respeito aos professores e a imediata instituição do Plano de Saúde.

O terceiro exemplo de prática de democracia é a forma como os trabalhadores da Educação se organizam no sindicato: são eleitos representantes de escolas, que constituem o elo entre a unidade escolar e a direção da APLB-Sindicato, o que significa unidade, força.

Esse processo democrático faz parte do projeto da APLB – Sindicato, qual seja, persistir na luta e no desejo de que a escola deixe de ser uma instituição que aprofunda as desigualdades sociais, para que essa escola possa oferecer para os filhos do povo, dos trabalhadores, uma educação de qualidade, transformadora.

Em suma, que as crianças e jovens que freqüentam as escolas da rede municipal tornem-se cidadãos plenos, em condições de mudar não só a suas trajetórias pessoais, mas o rumo da história de seu país. Para tanto, vai ser preciso avançar ainda mais na luta para acabar de vez com a fome e a pobreza, ainda tão presentes nessas famílias.

Dia 15 de outubro é dia da Professora e do Professor e precisa ser comemorado não apenas com festa, mas com reflexão, porque ainda há muito que fazer, que lutar.

Ser professora (or) é entender que ensinar e aprender constituem uma unidade, estão intrínsecos; que é preciso acreditar que a utopia pode se transformar em realidade, basta acreditar (e lutar) que a educação pública precisa e DEVE ser de qualidade para todas e todos.

VIVA A PROFESSORA! VIVA O PROFESSOR!

Elza Melo, professora da rede Estadual e Municipal, é diretora da APLB-Sindicato.

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